segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Chumbo Grosso.

A semana começou interessante. Além da já anunciada enxurrada de euros que o Banco Central Europeu irá colocar nos mercados, no fim da última semana - a bagatela de  1,1 trilhão, ao ritmo de € 60 bilhões por mês -, tivemos a confirmação da vitória do partido de extrema-esquerda Syriza, comandado por Alexis Tsipras, nas eleições gregas e, agorinha, eis que sai a informação de que a agência de rating Standard & Poor's rebaixou a nota da Rússia para abaixo do grau de investimento (o tal grau significa que a probabilidade de o país dar calote na sua dívida pública é baixa).

Mas, afinal de contas, o que tudo isso significa para o Brasil? Basicamente, que vem (mais) chumbo grosso pela frente. 

O "tsunami monetário", agora em versão euro, irá pressionar para baixo o valor da moeda frente às demais. Em que medida, exatamente, isso irá se refletir no seu valor frente ao real ainda é incerto, mas já se pode esperar que ficará mais barato importar da Europa, o que tem efeitos ambíguos sobre a economia. 

Se, por um lado, o barateamento dos importados europeus dá uma ajudinha ao Banco Central no combate à inflação, o que é bom, por outro também é verdade importados mais baratos significam que os brasileiros irão deixar de consumir bens nacionais em prol de produtos vindos de fora, além do que o euro (possivelmente) mais fraco tira competitividade dos nossos exportadores em relação aos seus concorrentes do velho continente. Esses dois últimos impactos, combinados, dão mais uma paulada na nossa já combalida economia. E isso pra ficarmos em apenas três efeitos mais simples e diretos, porque existem outros mais sutis, que dependem de qual efeito a medida terá sobre a própria Europa.

Qual desses impactos acabará por determinar o efeito final da baciada de euros sobre a economia brasileira depende dos pesos relativos de cada um deles, mas, particularmente, eu sou mais pessimista. Acredito que o efeito líquido final será prejudicial para o Brasil, justamente por, e agravado pelas, nossas próprias condições econômicas internas (ou, dizendo de outro modo, se a casa estivesse em ordem o efeito geral poderia ser positivo), além do poder bastante limitado do Euro no "controle" da inflação (o dólar possui efeito muito maior)

Em segundo lugar, temos a eleição da extrema-esquerda na Grécia, que pode ser um presente de grego para o Brasil (santa criatividade!). Mas "por qual motivo, razão ou circunstância", você pode estar se perguntando? 

A vitória do Syriza, que prega, entre outras coisas, o calote da dívida grega e o aumento dos gastos públicos lança, de cara, incertezas sobre a Europa, o que nunca é bom para ninguém, e pode se provar um verdadeiro barril de pólvora para o continente (e o resto do mundo). 

Ainda que não aconteça nada de mais - e a maior chance é de que, sim, aconteça muita coisa - a simples eleição do partido gera insegurança e desconfiança, que pode se generalizar e diminuir a boa vontade dos investidores com outros países dados a estripulias em suas economias, caso - adivinhem só? Eu tenho certeza de que vocês já adivinharam - do nosso querido Brasil! Evidentemente, esse é apenas um dos canais pelos quais a eleição grega pode afetar o Brasil, mas um dos mais importantes. 

Outro canal importantíssimo, na realidade o mais importante, pelo qual o Brasil pode ser (e será) afetado é caso o barril grego realmente exploda violentamente e cause uma reação em cadeia, explodindo outros possíveis barris, recolocando a Europa e o resto do mundo novamente em uma crise econômica de proporções gigantescas - é justamente o medo desse efeito que causa o primeiro que, no entanto, se materializa no presente - e provavelmente irá impactar negativamente o Brasil - ainda que o barril nunca exploda.

Por fim (por enquanto), temos o rebaixamento da nota de crédito russa. Seus efeitos diretos são muito similares que os da eleição na Grécia, ancorados em expectativas. De maneira bastante didática, a perda do grau de investimento por parte da Rússia leva os investidores a desconfiarem de outras economias emergentes, especialmente se tais países tem histórico e fama de serem irresponsáveis na sua gestão macroeconômica, caso do nosso país - tanto é que o Brasil é o próximo na linha de tiro das empresas de rating.

Novamente, tal desconfiança leva, e por favor me desculpem a tautologia, à menor confiança no Brasil, o que tende a diminuir (podendo tal queda chegar a ser bastante expressiva) os investimentos no país, tanto de investidores internos quanto, principalmente, os externos, os quais nos são tão necessários. 

O "tende a" no parágrafo anterior é devido justamente porque as ações que o governo brasileiro decidir e efetivamente tomar daqui para frente na gestão da economia poderão potencializar ou minorar o efeito dessa desconfiança - venha ela derivada de qual fonte externa vier - ao mostrar se, considerando-se isoladamente a nossa economia e suas condições internas, o Brasil é um país seguro, confiável, com oportunidades de investimento lucrativo ou não. Se faz por merecer confiança, ou, ao contrário, (ainda mais) desconfiança.

Apesar da recente mudança de postura nesse (re)começo de governo, com a tomada de necessárias medidas de austeridade, estou ainda bastante cético no real compromisso da Dilma 2.0 com a racionalidade econômica. Acredito que, tão logo a maré melhore um pouco, a responsabilidade com a economia será jogada na lata do lixo e a farra voltará com gosto a ditar os rumos do país.


A ver.












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