sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Arte Estatal

Saiu esta notícia bastante curiosa no site de Veja. Segue trechinho: "Um diretor de teatro jogou um carro contra o portão traseiro do palácio presidencial da França, nesta quinta-feira, em protesto contra cortes governamentais no financiamento das artes, disseram autoridades do país."

Fiquei cá a imaginar que alguns "artistas-intelequituais" tupiniquins possivelmente aprovariam o "protesto". Afinal, é pela arte!! 

Não nego, longe de mim, a suma importância da (grande) arte para a vida da pessoa. Como muito poucas coisas ela é capaz de elevar o espírito humano aos mais elevados graus de beleza e nobreza. Tenho a firme convicção de que uma pessoa sem o mínimo de contato com a arte é, sim, mais pobre. Mas, ao contrário do Gregório Duvivier e do diretor do tal teatro francês, não defendo o financiamento público da arte.

Por uma simples razão: é contra a liberdade de escolha das pessoas. Recursos materiais e financeiros não caem do céu, não aparecem do nada, eles têm de ser ou produzidos ou tomados àqueles que os produziram. Dizer que o Estado deve incentivar (leia-se bancar) a arte significa, necessariamente, afirmar que os outros indivíduos devem financiar um projeto artístico quer eles queiram ou não, quer concordem comigo, com o Rodrigo Constantino, com o Gregório e o tal diretor, e considerem as manifestações da alma algo vital, ou não, e achem tudo isso simplesmente uma grande frescura. 

E acho que as pessoas têm o direito de desprezar as artes e se recusar a colocar seu rico dinheirinho nelas, por mais que, a meu ver, isso as empobreça sobremaneira.

Ademais, ainda que todos concordássemos que arte importa, teríamos ainda um problema adicional: qual projeto financiar? Pois a arte, por sua própria natureza, é subjetiva, e todos temos os nossos gostos e preferências. Além disso, muito do impacto que uma obra tem em nós depende de nossas próprias vivências, do nosso refinamento (inclusive moral). Uma pintura ou música, por exemplo, que tem grande ressonância na minha alma pode não gerar a menor vibração na sensibilidade do meu vizinho e algo que eu desprezo ele pode considerar sublime. Não seria melhor, então, deixar que eu e ele decidíssemos livremente quais manifestações experimentar?

Até mesmo de um ponto de vista estritamente econômico a liberdade é o melhor caminho. Se um artista tem de se financiar no mercado, vai procurar criar obras que tenham melhor receptividade junto ao seu público, que mais o sensibilize. Logo eu, enquanto consumidor de arte estarei em melhor situação, pois terei a meu dispor criações que melhor manifestem meus gostos e experiências. Já se é o governo o grande mecenas, sua preocupação em agradar seu consumidor cai, e o artista procurará agradar aos poderosos de turno ao invés daqueles que irão realmente experimentar suas obras.

A arte, tal como os indivíduos, precisa ser livre, e definitivamente não é o Estado que irá torná-la assim.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Surrealismo

Saiu a seguinte notícia na Folha Online, que tem elementos verdadeiramente surreais, a começar pela machete: "Banco Central tem aval do governo para levar Selic a 10%".

Como assim? Só mesmo em Banânia ou em outro país que não sabe pra que serve um Banco Central a autoridade monetária precisa de "aval" do governo para subir as taxas de juros. É por isso que nas melhores economias o BC tem autonomia assegurada por lei, e não pela boa vontade do mandatário de turno. Para que possa cumprir sua função sem interferências, sem precisar da permissão de quem quer que seja.

A função primordial de um Banco Central é assegurar o valor de compra da moeda da nação. E para isso ele pode achar necessário subir a taxa de juros básica da economia. Mas e se o governo não gostar, achar ruim para o crescimento da economia e/ou suas ambições eleitorais? Paciência, oras! Que vá chorar suas pitangas em outro lugar!

Até porque se, no curtíssimo prazo, a alta dos juros pode, sim, ser prejudicial ao crescimento econômico, imediatamente depois, o controle e a diminuição da inflação, ao dar segurança e previsibilidade à economia, o que é essencial para o investimento, contrabalanceia e eventualmente supera os efeitos negativos dos juros mais altos. Mais do que o nível dos juros, é o otimismo dos empresários à respeito do futuro que determina a realização ou não dos investimentos.

Mas a reportagem não parou por aí, segue outro trecho da matéria: "O Banco Central tem o aval do Palácio do Planalto para elevar a taxa de juros, que deve subir hoje de 9% para 9,5% ao ano, para a casa dos dois dígitos caso a inflação indique que não seguirá recuando nos próximos meses.

A avaliação do governo é que uma inflação em alta causa mais estragos para a imagem da presidente Dilma que a elevação da taxa Selic, referência para o mercado."

Ahn?! É isso mesmo?! Eu entendi direito? A grande preocupação do governo petista não é a efetiva corrosão do poder aquisitivo e consequente empobrecimento da população - e atenção, especialmente dos pobres e miseráveis! -, mas a imagem da "presidenta"??? Chamem os médicos urgentemente, porque esse governo sofre de "umbiguismo" em estado terminal!

Segue mais um mimo: "A meta do BC é fazer a inflação deste ano ficar abaixo da do ano passado, de 5,84%."

Pequeno detalhe: a meta do BC para este ano, o ano anterior e para o próximo ano é uma taxa de inflação de 4,5% ao ano. 5,84% não é meta, é incompetência mesmo! As bandas de 2 pontos percentuais para mais ou para menos ao redor da taxa de 4,5% a.a. foram feitas para a acomodação de choques imprevistos e esporádicos na economia, não para mascarar a completa inépcia da equipe econômica petista e permitir que, se a inflação fica abaixo dos 6,5%, o governo saia por aí papagaiando aos quatro ventos que cumpriu a meta de inflação. Não cumpriu!

Definitivamente, idiotice é tanta que beira o surreal!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Desculpa Esfarrapada

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, mestre em falar besteira sobre economia, habilidade esta somente rivalizada pela sua habilidade em fazer besteira na economia, saiu-se com uma que é do balacobaco: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/crise-nas-empresas-de-eike-arranhou-imagem-do-brasil-diz-mantega. Depois da capa da revista The Economist mostrando o Cristo Redentor em franca rota de colisão com o chão, o ministro agora culpa a derrocada da OGX e demais empresas do grupo X, de Eike Batista, na bolsa de valores por “arranhar” a reputação do Brasil. 

Ora, ministro, sem dúvida alguma, o fracasso de uma empresa do porte e com as expectativas geradas pela OGX  expectativas essas em grande parte infladas artificialmente pelo próprio governo via política de "campeões nacionais" com os bilhões aplicados na petroleira e demais empresas EBX pelo BNDES, é importante frisar ,  não é bom para o país, e sim, pode “arranhar” sua imagem, ainda mais em um país em desenvolvimento (será mesmo?) como o Brasil. Mas o senhor incorre em dois erros crassos: primeiro, a reputação do Brasil perante o mundo não está “arranhada”, ela está destroçada, e piorando! Em segundo lugar, o principal culpado por essa situação deplorável é o próprio governo ministro – com destaque para o senhor, que é uma piada –, com seu excesso de intervencionismo e microgerenciamento da economia brasileira, esse ideário rançoso e fracassado do Estado indutor e locomotiva do desenvolvimento. 

Quem é a verdadeira locomotiva, induz e gera riquezas e desenvolvimento somos nós as pessoas, os indivíduos, organizados em uma economia de mercado, em que cada pessoa é livre, talvez seja melhor usar a palavra desimpedida, para produzir, comprar e vender de acordo com as suas possibilidades e preferências. Ao Estado cabe apenas proteger esse “desimpedimento” e não tentar direcioná-lo em qualquer direção mais ou menos arbitrária. Culpar a OGX pela queda na percepção e estima com relação ao país inteiro é pura desonestidade, é criar uma distração para esconder o próprio fiasco. 

Quem segura e impede o desenvolvimento do Brasil não é a mão-invisível de Adam Smith, mas sim o braço-de-ferro, bastante palpável, do Estado.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Ciência Econômica

Bem pessoal, vamos ao trabalho então!

Alerta: vai ficar (muito) grande hehe

Nesse segundo post irei falar sobre o que, para mim, é afinal de contas a Ciência Econômica, e porque é extremamente importante estudá-la. Vocês, talvez, irão se surpreender um pouquinho com a resposta - eu mesmo me surpreendi bastante quando vim a saber o que realmente era a Economia.

Sempre que alguém houve a palavra "economia" (e se discordam de mim, por favor se manifestem), é imediatamente remetido a taxa de desemprego, inflação, taxas de juros, Banco Central, bolsa de valores, mercado financeiro, câmbio, investimento, crescimento, PIB, ficando com a impressão de ter entrado em um labirinto de conceitos tanto misteriosos quanto complexos. Mas então, Economia, é isso? Não!! Ou melhor, também é! A Econômica é, na realidade, algo muito mais básico, simples e fascinante. O objeto de estudo da Ciência Econômica somos nós! Sim, eu, você, seu vizinho, seu(a) namorado(a), seu chefe e até mesmo a sua sogra! 

A Economia é o ramo de estudos que investiga o comportamento econômico dos indivíduos. De acordo com Schumpeter¹, o comportamento econômico é aquele "dirigido para a aquisição de bens". Com outras palavras, o indivíduo, e seu comportamento ao lidar com seus bens e serviços é o grande interesse da Economia, que busca compreender quais variáveis o controlam, a quais impulsos e desejos os seres humanos atendem ao adquirir um produto ou serviço, quais são seus objetivos, e o que determina seu acesso a tais bens, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade.

E daí vem sua extrema importância, pois todos nós sabemos como tanto a quantidade quanto a qualidade dos bens e serviços que podemos usufruir afetam, sim, e muito!, o nosso bem-estar. A Economia reconhece, enfim, a importância da "matéria" para o bem-estar e felicidade das pessoas - sem com isso negar a existência do espírito, fica a cargo de cada um crer ou não na sua existência; eu acredito.

A economia (minúsculo), portanto, é o conjunto formado pelas ações humanas que visam a produção e aquisição de produtos e serviços. Ela compreende as regras, as negociações e a transações nas quais as pessoas engajam-se com esse fim. A Economia (maiúsculo) é o campo de estudos que investiga e busca compreender essas ações.

Desse objetivo, então - entender as escolhas materiais dos seres humanos -, surgem todos os inúmeros campos da investigação econômica. E nessa empolgante pesquisa, temos auxílio de uma das maiores criações da mente humana: a matemática!

E por isso, gosto eu de pensar, se não é uma propriamente exata, a Economia é uma ciência "quase exata". Quase exata pois, se nosso comportamento não é determinístico como o é a lei da gravidade, seguimos padrões de comportamento bastante estáveis. Sim, podemos mudar nosso modo de agir e pensar, mas essa mudança nunca é aleatória e imotivada e tende a dar-se de forma gradual. E isso nos permite equacionar nossas atitudes, e por equacionar eu quero dizer, literalmente, transformar nosso comportamento em uma equação matemática. Não deixa de ser um tanto melancólico saber que boa parte do que o ser humano é pode ser sintetizado em meia dúzia de linhas, e que tal resumo funciona bastante bem (por outro lado, fôssemos seres completamente imprevisíveis, a vida em sociedade seria simplesmente impossível).

E o principal, senão único propósito que nós perseguimos ao comprar bens e serviços é: bem-estar e felicidade, que nós economistas chamamos no jargão de "utilidade". Esse é o grande objetivo a guiar e impulsionar nossas escolhas materiais. A nós humanos não nos basta apenas viver, queremos viver bem! Se comer um sanduíche me provoca mais bem-estar (ou me dá mais utilidade) que comer uma maçã, eu irei comer o sanduíche e não a maça. Simples não? Sim! E bem, ISSO é Economia! Todo o resto vem daí.

E é sobre esse resto que eu vou falar um pouquinho agora. Atualmente a Economia divide-se em basicamente 3 grandes áreas: microeconomia, macroeconomia e história econômica. Vou dar agora uma pequena explicação das duas primeiras, por serem o foco desse blog.


Microeconomia

A "micro" busca compreender e explicar o comportamento tanto de um único indivíduo quanto de um grupo de pessoas, unidas pelo interesse comum em um bem ou serviço em particular - quer seja interesse em comprar tal bem ou serviço ou em vendê-lo, formando um conjunto o qual chamamos "mercado": mercado de carne (ou seja, o conjunto das pessoas que compram e vendem carne), mercado de trabalho (conjunto das pessoas que compram e vendem trabalho), mercado de roupas, mercado de computadores, mercado de drogas, e por aí vai, mercados do que quer que seja passível de ser comprado e vendido.

Fica fácil de entender se você lembrar de supermercado, que é onde vários mercados reúnem-se em um lugar só (por isso o "super").

A microeconomia, por sua vez, divide-se em um sem número de especializações, das quais só vou mencionar algumas; futuramente pretendo me aprofundar em algumas delas: microeconomia individual (teoria do consumidor), microeconomia empresarial (teoria da firma), economia comportamental, economia do trabalho, economia agrícola, economia da saúde, economia da informação... cada uma delas se especializando em uma faceta do comportamento individual ou em um mercado específico.


Macroeconomia

A "macro" olha para o todo, para o conjunto das transações efetuadas por vendedores e compradores. Ela agrega todas as pessoas na sociedade e analisa quais os fenômenos que daí surgem. PIB, crescimento, desemprego, inflação, taxas de juros, taxa de crescimento populacional, taxa de câmbio, todas essas são variáveis macroeconômicas. É ela que sempre aparece nos jornais, revistas, programas de televisão e gera acalorados debates. Apesar da minha maior predileção estar na microeconomia, esse blog irá discutir principalmente fenômenos macroeconômicos, pois afetam a todos de maneira mais ou menos homogênea.

Para entender a relação entre a micro e a macroeconomia, pense na economia como um relógio. A microeconomia estuda individualmente cada uma de suas engrenagens, sua forma, posição, função, e por aí vai. A macroeconomia estuda o relógio inteiro, montado, bonitinho, seu funcionamento ou não, e possíveis alternativas de conserto para eventuais defeitos. Ou ainda podemos olhar a microeconomia e a macroeconomia como se fossem o microscópio e o telescópio. A micro é o microscópio, olha para as bactérias, vírus, moléculas e, nos casos mais avançados, átomos. Já a macro é o telescópio, e serve para olhar os planetas, sistemas solares e galáxias. Apesar de se interessarem por objetos distintos, e em boa parte usarem de métodos de análise diferentes, ambas estão intimamente relacionadas. De fato, um dos campos de pesquisa econômica mais recentes busca estudar os fenômenos macroeconômicos usando técnicas e argumentos da microeconomia.


Temos a história econômica, que estuda os sistemas econômicos do passado, bem como procura entender e explicar os acontecimentos passados através de argumentos econômicos e a evolução da economia no tempo. E ainda temos a área de mercados financeiros - a meu ver um ramo da microeconomia (que mencionei à parte devido à sua grande independência em relação a microeconomia). A economia financeira estuda e busca entender como e porque as pessoas abdicam de consumo no presente por consumo no futuro, o valor das coisas no tempo e nos dá técnicas para avaliar e transformar um produto ou serviço hoje em um produto e serviço (frequentemente o mesmo) amanhã.

Bem, é isso o que eu entendo ser a Ciência Econômica. Agora me digam vocês o que acharam!





¹ SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do Desenvolvimento Econômico: Uma Investigação Sobre Lucros, Capital, Crédito, Juro e o Ciclo Econômico. São Paulo: Nova Cultura, 1997. (Os Economistas)

Para quem se interessar e quiser saber um pouquinho mais sobre quem foi Joseph A. Schumpeter, segue o link do artigo na Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Schumpeter

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Apresentações

Vamos às devidas apresentações: me chamo Bruno Assunção e criei este blog para falar, explicar e dar a minha opinião sobre economia, especialmente a brasileira.

Sou liberal, ou seja, eu acredito e defendo o "laissez-faire", porque para mim os indivíduos são um fim em si mesmos e devem ser os senhores das próprias vidas, e desde que não concorram para prejudicar os demais indivíduos, devem ser totalmente livres para pensar e fazer o que bem entenderem. Acredito e defendo também a propriedade privada e a economia de mercado, pois as considero condições essenciais para que as pessoas possam efetivamente ser donas de si próprias.

Desnecessário dizer, portanto, que este blog, sendo pessoal, emitirá seus julgamentos de valor a respeito da condução da economia tendo por base esse ideário.

Sempre que for necessário e\ou conveniente, recorrerei à teoria econômica para basear meus argumentos e opiniões, mas pretendo fazê-lo da forma mais simples e didática possível - sem com isso comprometer o rigor e a precisão - pois este blog não foi pensado para ser voltado apenas à economistas. Com ele, pretendo debater com todos aqueles interessados (não importando qual sua área original de especialização), para que toda e qualquer pessoa que desejar possa compreender a economia, suas leis, quais forças a regem e influenciam, e em qual magnitude o fazem.

Conto com vocês também, leitores, com suas opiniões, dúvidas, críticas e sugestões (também aceito elogios hehe), para travarmos um debate interessante e mutuamente proveitoso.

Este blog não tem um roteiro pré-estabelecido, comentando os assuntos conforme eles ganhem meu interesse e me pareçam mais relevantes. Porém, caso tenham alguma curiosidade em um assunto específico, sintam-se mais do que livres para sugerirem um tema!

Não posso garantir um ritmo de atualização do blog, mas pretendo publicar novos posts da maneira mais rápida possível.

Os comentários serão moderados de modo a manter o nível civilizado do debate, mas isso definitivamente NÃO quer dizer que somente aqueles que concordarem com a minha visão serão publicados. Avaliações e opiniões divergentes são mais do que bem vindas neste espaço.

Dito isso, é só. Até logo pessoal! E sejam muito bem-vindos!