sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ainda a Energia. Agora + Água

Muito bom o programa "Entre Aspas", da Globo News, sobre a situação atual do fornecimento tanto de energia elétrica quanto de água no Brasil, com os professores da USP Benedito Praga e Edimilson Moutinho dos Santos.

Destaco o trecho à partir de 11:14, em que ao responder a pergunta da apresentadora Monica Waldvogel o professor Moutinho dos Santos bota os "pingos nos 'is'", afirmando também (agora na boca de um especialista na área e de maneira ainda mais clara e enfática que eu) vários dos pontos do meu post sobre a crise do setor elétrico. Nas suas palavras, o Brasil comete um "suicídio energético"! Diagnóstico com o qual eu concordo plenamente. Ele também chama atenção ao fato - que eu já havia levantado no meu post - de que insegurança energética prejudica não só o funcionamento atual da economia, mas também investimentos em capacidade futura de produção!

Outro ponto relevante foi a intervenção do professor Praga chamando atenção de que o problema de abastecimento de água passa também por nós, consumidores, que devemos consumir de maneira mais responsável esse recurso, ainda mais quando os investimentos na área são insuficientes. Sem ser um eco-chato, ele nos chama a atenção para que consumamos menos água, sobretudo em épocas de estiagem prolongada e reservatórios em baixa, e para que evitemos o desperdício, e ainda que pequenas economias que tem custo zero para o indivíduo, como desligar a torneira quando estiver escovando os dentes (o exemplo é meu), ao final de um dia podem somar-se um volume de água significativo.

Enfim, assistam ao programa! 

#ficadica 


ps. E nem longo o programa é, menos de 24 minutinhos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O Brasil Pode Parar. Ou: O Santo Não Tem Culpa

Alerta: vai ficar graaaaaannnnndddeeee!!!

Há algum tempo já, tem me preocupado a situação energética brasileira. Desde o ano passado temos usado intensivamente as usinas termelétricas, mais caras e poluentes, para a geração de eletricidade. E isso com a taxa nanica de expansão do PIB que temos! Imagino como estaríamos agora caso tivéssemos crescido nesses últimos 3 anos o que o ministro da fazenda, Guido Mantega, havia "previsto", algo entre 4% e 4,5% ao ano.

Comecemos com o óbvio ululante: assim como para andar, trabalhar, falar, se exercitar, assistir a um filme, enfim, viver, você precisa se alimentar constantemente, para dos alimentos ingeridos obter a energia necessária à prática de todas essas atividades, também as empresas de um país, para produzir e prosperar, precisam de energia, e essa energia precisa ser obtida de alguma maneira. 

Nós, consumidores individuais, familiares (principalmente os mais jovens) tomamos a energia elétrica  presente em nossos lares como algo tão natural e corriqueiro que às vezes ela nos parece quase como algo que sempre esteve lá, surgida como que do nada, bastando ligar na tomada ou apertar o interruptor que voilà!, temos luz, água quente no chuveiro, televisão e computador ligados, alimentos conservados na geladeira, cervejinha gelada no congelador. De fato, a energia elétrica só nos chama atenção quando falta! Pouco ou nada paramos para pensar sobre a enorme, complexa e custosa cadeia existente desde a sua geração nas usinas até a nossa tomada, passando entre essas duas pontas pelas centrais de transmissão e distribuição.

Todo esse sistema no Brasil está no seu limite. E a política energética do governo petista tem feito o que pode para atingí-lo mais cedo. 2014, até agora, tem sido um ano fraco para chuvas, o que somado ao forte calor que tem feito, contribui para agravar o problema. Mas não venham por a culpa em São Pedro que o santo não tem nada com isso! Uma crise energética não se cria da noite para o dia. Se hoje corremos o risco real, ainda que por enquanto relativamente baixo, de termos de enfrentar um racionamento mais à frente, a culpa disso é bem terrena. 

Por sua própria natureza, tanto a geração quanto a transmissão e distribuição de energia elétrica são investimentos cujo retorno se dá a longo prazo. O maior gasto se dá na construção do próprio empreendimento, na sua fase pré-operacional, enquanto que, uma vez instalado, o volume de eletricidade produzido pode ser variado sem muito custo (desde que dentro do limite da capacidade de geração instalada na usina, claro, além dos qual são necessários novos investimentos na construção e instalação de novas estruturas e equipamentos). Em economês, dizemos que os custos fixos são volumosos, enquanto que os variáveis (dependentes do nível da produção) são baixos.

Ora, para um empresário se engajar em um negócio assim, é fundamental ter o máximo de previsibilidade possível! Se a realidade fugir muito às suas previsões, ele pode ter de amargar um prejuízo gigantesco. E um dos fatores mais determinantes sobre essa realidade é a regulação governamental do setor, ainda mais se nos atentarmos ao fato de que o investimento não é realizado uma vez só. Ao longo da vida do projeto novos aportes de capital devem ser feitos, tanto para a manutenção das atuais estruturas, quanto para sua ampliação e modernização, de modo que a crescente demanda energética possa ser suprida.

Nesse aspecto, definitivamente, Dilma e seu governo vão de mal a pior. Vamos recordar 2012, quando a "presidenta" resolveu baixar na canetada em 20%, em média, o valor da conta de luz e anunciando o feito em rede nacional como se tivesse feito algo de muito bom . De fato, a energia brasileira é cara, e isso encarece nossos produtos e inibe investimentos nos demais setores da economia, mas não é com o populismo do "ou dá ou desce" - quem não aceitasse as tarifas reduzidas impostas pela gerentona não teria suas concessões renovadas - que se resolve o problema. 

A Cemig e a Cesp, apesar de estatais, são mais profissionais e independentes pularam fora do barco. A Eletrobras, coitada, controlada pelo governo federal, não teve como escapar e topou o negócio, cuja previsão era de dar um tombo no caixa da empresa da ordem de 70%!

Apesar de gravíssimos, esses não são os únicos problemas. Uma série de investimentos está atrasada, como as linhas de transmissão que ligariam diversos parques eólicos ao sistema nacional. As usinas já estão prontas, mas não podem produzir nenhum megawatt pois simplesmente não há ligação delas com a rede elétrica!  Os equipamentos também estão em cacarecos, como fica evidente pelos recentes - e inúmeros - apagões no Brasil, sendo o mais recente essa terça-feira

Imagino eu que a situação só tende a se agravar. Como, com a redução da tarifa de luz feita na base da canetada as geradoras e distribuidoras de energia conseguiram gerar caixa o suficiente para cobrir a manutenção dos atuais equipamentos e realizar novos investimentos? E com a demanda por energia sempre crescente?

A medida da presidente Dilma foi populista e extremamente irresponsável. No mais, a situação energética caótica no Brasil pode comprometer o crescimento da economia em mais de uma maneira. Não somente o setor energético é prejudicado. Se a oferta de energia é incerta, empresários de outros setores da economia podem decidir adiar ou mesmo cancelar investimentos pelo simples fato de que pode eventualmente "faltar gás" pra tocar as novas máquinas e equipamentos.

A forte escassez de chuvas certamente agrava bastante o problema e se não fossem as termelétricas em funcionamento o Brasil já estaria em um quadro de racionamento, mas planejamento e investimento existem justamente para isso, para que mesmo com São Pedro fazendo jogo duro o pais tenha segurança e previsibilidade em um dos itens mais fundamentais da cadeia produtiva. O sistema já está novamente no limite menos de 15 anos depois do racionamento de 2001 e evidentemente falta (muita) competência ao governo para dar conta do problema.

Por fim, "ainda bem" que a economia brasileira não cresceu o que o governo queria. Tivesse, ao invés de termos atualmente o sistema no limite, certamente já estaríamos enfrentando um novo racionamento! Sim, a inépcia do governo é tamanha que nos obriga a torcer, ao menos em parte, contra o Brasil! É simplesmente um absurdo! 


ps. Não é coincidência que tal situação se dê em um dos setores mais estatizados da economia.

ps2. Ufa! Acho que acabou! :)