segunda-feira, 24 de novembro de 2014

PIBinho, PIBículo, PIBínfimo!

Toda segunda-feira, o Banco Central divulga o Boletim Focus, pesquisa realizada com os principais agentes do mercado financeiro sobre suas expectativas de crescimento do PIB, SELIC - a taxa de juros básica da economia - e taxa de inflação. 

Na pesquisa divulgada esta semana, "a mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu de aumento de 0,21% para alta de 0,20%. Há um mês, a estimativa era de crescimento de 0,27%. Para 2015, a aposta seguiu inalterada em 0,80%.", segundo nota do Valor Econômico.

Ainda que a projeção tivesse triplicado, quadruplicado, quintuplicado, o crescimento esperado para a economia em 2014 ainda seria ridículo! Para 2015, as coisas não são muito "menos piores", com a expectativa de expansão da economia em 0,8%.

O que espanta é um país como tamanho e as características demográficas da população brasileira - com alto número de jovens -, com o nível baixo da renda média do povo e com a consequente necessidade de termos altas taxas de crescimento por períodos prolongados apresentar esse crescimento pífio. Espanta também que esse crescimento é bem menor tanto que o de países desenvolvidos quanto de outros países emergentes, incluindo aí nossos vizinhos latino-americanos. 

Culpa de quem? Culpa da falta de liberalismo no Brasil, do tamanho e do excesso de intervenção do Estado na economia do país e do aumento exponencial das trapalhadas em política econômica à partir do segundo governo Lula.

Tivéssemos uma economia com menos estado, mais livre, mais aberta ao comércio e à competição internacional, mais capitalista, enfim, eu tenho certeza de que poderíamos ter de maneira sustentada taxas de crescimento do PIB acima de 5% com facilidade, o que mudaria radicalmente - para melhor! - a vida de milhões de pessoas, tanto agora quanto, principalmente, no futuro.

domingo, 23 de novembro de 2014

Os Jogos São Vorazes, Mas São Predadores? Ou: Quem Preda Quem, Aqui?

Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que voltamos à ativa. Desta vez, espero que permanentemente.

Então "vamo lá"! 

Pra reaquecer os motores (os assuntos mais polêmicos vão ficar pra mais tarde, depois que eu recuperar o ritmo), comento sobre uma declaração da Ancine, para quem a estreia do filme Jogos Vorazes no Brasil foi "predatória". 

Para Manoel Rangel, presidente da agência reguladora, lançamentos predatórios "são os que ocupam muitas telas em poucos complexos". Segundo ele, tais superestreias, "expulsam" outros filmes do circuito, "homogeneizando a oferta e acabando com a diversidade". Ainda de acordo com o presidente da Ancine, "O espectador que encontrar apenas um título em quase 50% das salas desiste. É menos ingresso sendo vendido e redução do hábito do cinema".

Até aí, vá lá, tudo bem. Os problemas começam quando ele propõe como solução estabelecer uma cota de x% das telas para os blockbusters, seguindo o exemplo da França. A medida, a meu ver, é incompatível com um sistema institucional de plenas liberdades individuais e trai um profundo desconhecimento da mais básica das leis econômicas: oferta e demanda.

É irritante essa mania, no Brasil, de que compete ao Estado zelar, cuidar, tutelar o cidadão, como se fôssemos todos crianças ou, pior ainda, deficientes mentais, incapazes de decidirmos, nós mesmos, o queremos para as nossas vida. Não compete! O Estado deveria apenas garantir um tal marco institucional de modo que eu (e você também, caro leitor) pudesse fazer, livremente, minhas próprias escolhas e, eventualmente, de maneira emergencial, assistencial e temporária, auxiliar aqueles cidadãos em situação de grande risco (miséria e desastres naturais, por exemplo). Não cabe ao Estado, através da Ancine, garantir a pluralidade nas salas de cinema. Cabe aos consumidores, se e somente se, assim o desejarem, demandá-la.

Ainda mais hoje, com a profusão de redes sociais e a conexão cada vez mais veloz de pessoas com interesses em comum, a "solução" da Ancine é, além de autoritária, anacrônica. Seria relativamente simples aos frequentadores de cinema se organizarem e pressionarem as salas exibidoras por maior diversidade de filmes se assim fosse a sua vontade. Não precisa vir a Ancine e obrigar as pessoas a fazerem o que não é do seu desejo.

Filmes e salas de cinemas, antes de serem bens culturais essenciais, são produtos e negócios, devendo servir aos seus respectivos donos. E é aí que a Ancine demonstra completo desconhecimento sobre o funcionamento de um mercado (qualquer um), além de ignorar o relógio. Explico:

Como ninguém é (e nem deveria ser) obrigado a comprar um ingresso de cinema ou assistir a determinada película, para que filmes e cinemas possam servir aos seus donos, eles devem, necessariamente e da melhor forma possível, servir os seus consumidores - no caso, o digníssimo espectador - sob pena de o negócio ruir.

Assim, caso as estreias monstruosas estivessem realmente ferindo o melhor interesse do espectador, certamente a venda de ingressos cairia e o hábito de ir ao cinema diminuiria, como bem pontuou o sr. Rangel. Só que, evidentemente, as distribuidoras e multiplexes não ficariam paradas. Procurariam saber as causas da queda na venda de ingressos. De certo, suas pesquisas identificariam (ainda que não imediatamente, provavelmente) o desejo de um maior número de títulos em exibição por parte dos frequentadores, de modo que, nas próximas exibições e nos próximos lançamentos, ajustariam a sua conduta, diminuindo o espaço do filme "predador" em prol da maior variedade.  

"Ah, mas e se os consumidores estiverem satisfeitos, como fica a diversidade e a riqueza cultural do país?". Bem, certamente essas perderiam, o que eu muito lamentaria, mas se a maioria dos frequentadores estão satisfeitos com esse cenário, paciência. Não é porque eu não gosto de uma coisa que eu deva poder (através da interferência do Estado) obrigar as outras pessoas a mudar e fazer o que eu quero.

Desse modo, no caso, se alguém ameaça predar alguém aqui, esse alguém é a Ancine.

ps1. Caso realmente quisesse incentivar o hábito e a cultura cinematográfica e no país, a Ancine deveria pressionar o governo a diminuir ao máximo a regulamentação do setor, de modo que os custos de produção  e distribuição de um filme e de construção e operação de novas salas de cinema pudessem cair,  estimulando a concorrência, maior aliada da diversidade e do espectador.

ps2. Não é com subsídios e cotas que o ps1. será atingido, mas com menos interferência e regras simples, claras e isonômicas para todos.