domingo, 13 de julho de 2014

1%

No post anterior, comentei um pouquinho sobre o desempenho pífio do setor industrial e comparei a economia brasileira a um carro quase parando e ainda pisando no freio. Pois é! Eis que surge nos sites dos jornais e revistas, confirmando aquilo que eu escrevi, a notícia de que bancos e consultorias econômicas estão prevendo que a economia brasileira deve crescer menos de 1% em 2014.

É péssimo, um resultado pífio, incapaz de atender às necessidades brasileiras! Um crescimento de 1% é muito menos do que o país poderia estar crescendo em condições ideais e o culpado não é outro senão o governo que está aí. Dentro em breve, pretendo fazer uma série de posts explicando bem didaticamente um pouquinho de teoria econômica, aí vocês poderão entender melhor o tamanho da estupidez do que o governo vem fazendo e que, pior ainda, não é inédito! O que está sendo feito agora já foi feito no passado com os mesmos resultados ruins para o país. Parece vinil arranhado. Muda o disco!

Sob as justificativas principais de incentivar a economia, atuando como a locomotiva do crescimento, proteger os empregos e promover a justiça e a inclusão social, o governo petista intervêm com mão pesada, tentando micro-gerenciar a economia. Ainda que os motivos sejam, sim, totalmente louváveis (quem não acha louvável o crescimento econômico, a manutenção de um alto nível de emprego e que os pobres ganhem mais dinheiro e tenham mais acesso tanto a bens materiais quanto à cultura? Eu acho muito!) os meios escolhidos para atingi-los são totalmente errados.

Pra começar temos o aspecto moral da coisa. Ao intervir no funcionamento do livre-mercado, que nada mais é que o produto das livres escolhas de milhões de indivíduos, incluindo eu e você, o que o governo diz é que nós não podemos escolher aquilo que nós efetivamente escolhemos, que nós não podemos comprar e consumir aquilo que nós gostaríamos comprar e consumir. Ainda que isso seja, sim, motivo para debates filosóficos profundos e ainda que em algumas situações a intervenção da força coercitiva do estado seja justificável e até mesmo desejável, alguma medida há que ter! E o governo Dilma já passou demais da conta!

Em seguida, temos as consequências puramente econômicas  da coisa - que em última análise são corolários das implicações morais. Ao intervir na economia o estado distorce seus preços. Essa distorção impede a coordenação dos agentes econômicos, ou seja, impede que as firmas, seus empregados, fornecedores e consumidores se entendam e combinem suas ações, gerando falsas impressões, distorcendo suas decisões, fazendo com que escolham errado ou escolham menos bem do que poderiam.

Pode parecer estranho à primeira vista, mas um preço não é somente um número, ele é, na realidade, um "livro", que juntamente com seus movimentos ao longo do tempo nos conta uma história. 

O preço alto de um computador, por exemplo, nos conta que ele é um bem escasso, que ele é altamente desejado pelas pessoas mas que sua produção é pequena em relação ao total daquelas que o almejam, de modo que somente aqueles indivíduos que mais o desejam e podem pagar por ele irão tê-lo. Mas o preço alto também nos diz que, em face disso, compensa aumentar a produção, ou investir para que ela possa aumentar no futuro, permitindo, assim, o acesso de mais pessoas ao computador. E isso ainda que o preço tenha que baixar - o lucro ganho com cada computador diminui, mas o lucro total do fabricante aumenta, pois o aumento nas vendas de computadores mais do que compensa a queda no lucro de cada unidade.

Ao final, quem sai ganhando? Todo mundo!!! As firmas, pois vendem mais e lucram mais, os trabalhadores, pois mantêm o seu emprego, além do que empresas que lucram mais podem pagar melhores salários, o governo, pois arrecada mais impostos, e os consumidores, pois o preço baixa, de modo mais pessoas podem comprar o mesmo computador e a um preço mais baixo! 

Ao intervir na economia (leia-se nos preços), porém, o governo impede o livro  "preço" de contar a sua história e as pessoas de o lerem. 

Não é algo tão difícil de entender, na realidade, é algo até bastante simples. A economia é um todo complexo que surge de escolhas simples. Mas é ao intervir nessa simplicidade para gerenciar a complexidade que o governo colhe esses (menos de) 1% que vemos atualmente.

Um pouquinho sobre a indústria

Faço um apanhado, comentando algumas notícias com dados que saíram sobre o desempenho da indústria brasileira.

A primeira diz que, em maio, a produção industrial no país caiu em 7 das 14 regiões pesquisadas pelo IBGE e 0,6% no agregado do país, apesar de a outra metade das regiões terem tido desempenho positivo. A segunda informa que, também em maio, o emprego no setor industrial caiu 0,7% em relação a abril de 2014 e 2,6% na comparação com maio de 2013. A terceira notícia dá conta de que o índice que mede a confiança dos empresários do setor industrial caiu em 3,9% junho de 2014 sobre o final de maio e que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada também recuou, 0,8%, em relação a maio.

Pois bem! O que isso tudo quer dizer, afinal? De maneira simples, quer dizer que o Brasil está parando. Se a gente fosse um carro, já está andando devagarinho, devagarinho e ainda pisando mais fundo no freio. Não obstante, a inflação continua alta, ou seja, o motor do carro está fundindo - e não precisamos do IPCA pra ver isso. Todos nós podemos sentir o aumento dos preços "na pele" a cada ida ao supermercado. 

Quem já foi vai entender. O Brasil está descendo a serra de Ubatuba. A gente desce com o carro engrenado, pisando no freio, devagar quase parando e o motor do carro quase derretendo. Se pra descer a serra isso é normal devido ao esforço do carro, na economia, porém, é uma anomalia sem tamanho! Pra isso acontecer, quem decide a política econômica do país, o governo, tem de fazer um esforço danado pra fazer a coisa errada! 


Apesar dos enormes incentivos e benesses governamentais, ou justamente por causa deles, as industriais estão produzindo menos e, o que é tão grave quanto, o otimismo dos empresários está caindo, o que quer dizer que eles não têm perspectivas de que as coisas venham a melhorar num prazo razoável e temem que elas podem até mesmo piorar, o que pode levá-los a cortar ainda mais a produção atual e com certeza fará com que eles não invistam para aumentar a sua produção lá na frente, por acharem que não conseguirão vender seus produtos no futuro. Aí então entramos em uma ciranda do infortúnio e as três notícias se conectam.


Funciona mais ou menos assim:


Situação atual ruim + falta de confiança no futuro => queda na produção (notícia 1) => menos demanda por trabalhadores nas fábricas => queda no emprego (notícia 2) => queda na renda das pessoas afetadas e da economia como um todo => menos demanda pelos bens que as indústrias produzem => queda nas vendas => situação atual ruim + falta de confiança no futuro (notícia 3).


Daí vem o governo e, "jenialmente", pensa: "O que é que eu posso fazer, no que se refere a ajudar o setor industrial? Já sei, vou dar subsídios e aumentar os meus gastos, daí eu alivio a barra das empresas e também aumento a demanda por bens industriais, o que aumenta as vendas e o faturamento do setor, ou seja, a situação atual fica supimpa! e a confiança também volta. Daí fica tudo bem, eu saio linda e superior no selfie e ainda mando beijinho no ombro pros pessimistas!"


SQN! Esse esqueminha miojo (resolve os problemas da economia em 3 minutos) não funciona, e o governo, ao intervir na economia, ao invés de melhorar só faz a situação atual ficar pior ainda e o otimismo dos empresários com o futuro diminuir mais um pouco, realimentando a ciranda viciosa! Por que não funciona? Fica pra outro artigo.


No entanto, tem uma coisa muito mais simples que miojo, porém infinitamente mais difícil, de o governo fazer, que na realidade é a única coisa que realmente funciona (de maneira sustentada): sair da frente! Deixar de intervir. Privatizar a economia, ou seja, deixá-la aos cuidados dos indivíduos!


Pra resumir em duas palavrinhas mágicas: laissez faire.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Delfim e o animal inteligente. Ou: #ficadica

Depois de um longo e tenebroso inverno, voltamos à ativa!

Li no blog do Rodrigo Constantino comentário sobre o texto do Delfim Netto na Folha. Depois, obviamente, fui lá e li a referida coluna e... Discordei logo de cara! Começa Delfim:

Hoje somos todos "marxistas", exatamente como somos cartesianos, kantianos, weberianos, keynesianos, einstenianos e assim por diante. Para qualquer animal inteligente na segunda década do século 21, Marx é necessário, mas não suficiente.

"Devagar com o andor que o santo é de barro!", como diria minha amada mãe. Não sou um gênio, mas me considero um animal razoavelmente inteligente e nem por isso acho Marx "necessário". De fato, considero Marx, no mínimo, desnecessário, quando não pernicioso mesmo! E não estou falando do revolucionário, que até Delfim condena, falo do teórico econômico mesmo. Um dos pilares, se não "o" pilar, da teoria econômica marxista, a mais-valia, é, sinceramente, uma besteira gigantesca, monumental, estratosférica, ímpar, pantagruélica! Resumindo, é uma baboseira sem pé nem cabeça e nem sentido.

Depois, segue Delfim afirmando que de sua teoria sobraram "sólidos resíduos, incorporados definitivamente à consciência da humanidade" (???), e que hoje já estão perdendo a identificação com o autor que os criou por estarem se diluindo no caldo que "se supõe ser o estoque das 'verdades' que conhecemos", verdades entre aspas mesmo, de quebra dando a entender que a verdade verdadeira mesmo (e por favor me perdoem a tautologia) é algo assim que, "na real", não existe (ou ainda que seja algo que nós humanos não possamos, de fato, conhecer)!

Mas por outro lado, pensando bem... Taí! Nisso eu posso concordar com o Delfimzão! Na cultura humana estão "submersos" tanto verdades quanto mentiras e o marxismo, adivinhem!, faz parte do conjunto de mentiras.

Por fim, diz Delfim:

A miséria humana não é produto da propriedade privada, pelo menos não exclusivamente.

Sempre que leio ou ouço alguém condenando a propriedade privada como causa, ainda que parcial, da miséria e da pobreza dos seres humanos me dá um faniquito intelectual. Esse pessoal acha, ainda que não tenha totalmente consciência disso, que a riqueza nasce do "éter", que ela está ali, sempre esteve, e simplesmente foi apropriada por uns poucos, demandando, portanto, sua distribuição equitativa. Ignoram, ou fingem ignorar, que a riqueza não se cria sozinha, que ela é, ao contrário, produto da criatividade e da ação humanas. Esquecem-se de fazer o "antes e depois" da humanidade, no tempo. A humanidade, ao menos a esmagadora maioria dela, sempre foi pobre, pobre, pobre de marré deci. Foi justamente a, adivinhem!, propriedade privada que permitiu a criação gigantesca de riqueza e, que coisa não!, que ela se espalhasse por uma humanidade que, ainda por cima, aumentou enormemente de tamanho.

Qualquer animal inteligente na segunda década do século 21 joga Marx na lata do lixo. #ficadica Delfim ;)