quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Os Jogos São Vorazes, Mas São Predadores? Parte 2. Ou: O Autoritarismo "Do Bem" da Ancine

Acabo de ler no Estadão que a Ancine vai realmente impor um limite ao número de salas de cinema que um mesmo filme pode ocupar no Brasil. 

Sou apaixonado por cinema, por isso minha indignação não podia ser maior!

Mas claro, tudo vem com a embalado como "solução autorreguladora" do mercado. Uma Ova! Segundo se lê, a decisão foi tomada pela Ancine em conjunto "com uma câmara técnica formada por profissionais da indústria brasileira" - que me cheira a uma patota pedindo incentivo e proteção estatais -, com o intuito de corrigir "deficiências mercadológicas encontradas pela entidade". De acordo com a agência reguladora, a concentração das exibições em salas de cinema em um mesmo título "tende a prejudicar a atividade de exibição como um todo e constituir padronização e simplificação indesejáveis na fruição de bens culturais".

Ainda que eu concorde plenamente com a entidade e prefira uma maior diversidade de títulos sendo exibidos nas salas de cinema e que a concentração das sessões em um mesmo título seja realmente indesejável à cultura do país, porque eu, ou a Ancine, devamos ter o poder de enfiar goela abaixo dos exibidores o que eles podem ou não fazer? Só porque é "do bem", porque é "bom", é em prol do "belo e justo"? 

Ora bolas, mais "do bem", "bom, belo e justo" que limitar através da coerção estatal a exibição de um determinado filme  não é dar a liberdade para que as pessoas façam o que bem entender com seus negócios? Afinal, um dos ideais mais caros dessa gente não é a luta em prol da liberdade? Ou, pra essa gente, liberdade é só a liberdade de fazer o que eles querem que você faça?

O Brasil precisa urgentemente aprender uma coisa: não é porque determinada ação é benéfica e desejável que o Estado deva ter o poder de coagir as pessoas a tomá-la. Ainda que a maior diversidade de filmes nas salas de cinema seja benéfica e desejável, e, de fato, são, o Estado não deveria ter o direito de coagir as empresas a tanto. Fazer isso é puro autoritarismo. Até mesmo porque salas de cinemas não são concessões públicas. 

Já disse antes e repito: antes de serem bens culturais, filmes e salas de cinema são bens privados, devendo servir antes de tudo os seus respectivos donos (leia-se gerar riqueza/lucro). Por extensão e necessidade (especialmente em um mercado altamente competitivo), devem, sim, servir da melhor maneira possível os seus consumidores. 

Além disso, a Ancine e a tal câmara técnica podem entender tudo de cinema, mas não entendem patavinas de mercado. A limitação na exibição dos blockbusters (que só são blockbuster porque muitas pessoas desejam vê-los) pode até mesmo prejudicar a diversidade nos cinemas. "Como assim?" Bem, obviamente, as empresas irão perder receita ao ter de aderir à regra em favor "da diversidade e do bem cultural do Brasil", ou, e isso é apenas lógico, já teriam ampliado a variedade da sua exibição por conta própria, né! Receita essa que, suponho eu, terá de ser compensada de alguma outra maneira. De qual maneira? Aumentando a concentração (mas ainda dentro da regra) dos filmes médios, diminuindo assim, a sacrossanta pluralidade.

Se antes uma sala de cinema ou multiplex, por causa do dinheiro arrecadado com essas produções gigantescas podia se dar ao luxo de "perder" receita nos outros períodos investimento em filmes menores, independentes, experimentais, extremamente autorais, etc., agora babau! Os empresários terão de aumentar a concentração de filmes de atração mediana ou um pouco acima disso, como forma de tentar recuperar a receita perdida com os arrasa quarteirões. Então, se antes uma meia dúzia de filmes "monopolizava" as salas durante intervalos curtos de tempo, a partir de janeiro de 2015 um número maior de películas vai dominar a grade - ainda que cada filme individualmente domine menos - durante um período maior de tempo.

Outra medida possível para compensar a perda de receita seria o bom e velho aumento de preços, quer seja da pipoca (que eu não gosto) ou do refrigerante (que eu gosto), quer seja do ingresso. E isso sem dizer que as duas medidas não possam ser aplicadas ao mesmo tempo. Olha que maravilha!

Enfim, o autoritarismo do bem da Ancine e da tal câmara técnica tem tudo pra ser um tiro nos próprios pés, além de prejudicar, principalmente, os espectadores e apaixonados por cinema, como eu.

A Vaca Indo ("Embestada") Pro Brejo. Ou: Sou o Pessimildo da Campanha do PT, Mas Ainda Tenho Um Fiapo de Esperança no Brasil!

 Comento sobre mais um post do Rodrigo Constantino no blog da Veja.com , que por sua vez comenta sobre uma carta enviada por Luís Stuhlberger, gestor do Fundo Verde, atualmente parte do Credit Suisse Hedging-Griffo, mas que irá se tornar independente em 2015, aos seus clientes.

Segundo tanto Stuhlberger quanto Constantino, o cenário é dos piores para a economia brasileira tanto em 2015 quanto depois, tanto por fatores econômicos internos quanto externos, e tanto por fatores econômicos quanto pelo atual momento político e (por que não?) cultural do Brasil. Leiam ao menos o comentário do Constantino, é curtinho e ele resume os principais pontos da carta enviada por Luís Stuhlberger.

Concordo com os autores em quase tudo, mas vejo uma saída. Existe uma única, mínima ponta de esperança de que os ajustes não sejam tão dolorosos em 2015, 2016, no cenário positivo, ou de que a economia brasileira não beije a lona, no cenário negativo: e essa esperança chama-se "setor privado" ou pode ser ainda mais resumida como simplesmente "mercado".

O custo de capital ainda está baixo no mundo, o que quer dizer que ainda há, graças a Deus, dinheiro sobrando.


Caso Dilma anunciasse um programa realmente sério, benfeito e gigantesco de privatizações, de abertura de mercados, de reformas previdenciária e tributária, principalmente, enfim, de "mercantilização" da economia, apesar da queda inicial no emprego e na atividade em setores setores(justamente naqueles beneficiados pelo protecionismo), acredito sinceramente que o efeito surpresa seria tão grande que, apesar dos dados correntes negativos, a onda de otimismo que tomaria conta dos investidores seria tão volumosa que os investimentos tenderiam a subir mesmo agora.


Mas, apesar de ainda ser novo, não sou idiota, e não tenho a menor esperança de que o governo do PT vá abraçar de vez o capitalismo (o liberal, ou capitalismo, a rigor mesmo, não é!).


ps. Engana-se enormemente quem acha que quem é a favor do liberalismo econômico seja uma pessoa maldosa, sem coração, à favor da concentração de renda, da miséria dos miseráveis e blá, blá, blá... É justamente o contrário!!! #Ficaadica

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Meu Brasil Brasileiro

Li, agora há pouco, a coluna do Arnaldo Jabor, de hoje no O Globo e o comentário do Rodrigo Constantino sobre ela, em seu blog na Veja.com. Agora, seguem os meus pensamentos:

Eu ainda (confesso que às vezes nem sei como) acredito, ou seria melhor dizer: "tenho fé"?, no Brasil. Mas vira e mexe me dá vontade de pensar de maneira puramente "econômica" e até mesmo egoística: será que compensa, salvar o Brasil?

O Brasil está extremamente degradado moralmente, de sorte que o esforço que nós, pessoas decentes (de esquerda, centro ou direita), teremos que exercer para botar as coisas nos eixos e fazer o país voltar a avançar será enorme. O preço que cada um de nós terá que pagar será, sem sombra de dúvidas, extremamente caro.

E, além disso, para avançar quanto?? Fazendo uma análise de custo benefício, será que, coletivamente, o avanço obtido compensa o custo no qual teremos de incorrer? E do ponto de vista individual, o que eu realmente ganho com isso? Será que as recompensas que eu posso auferir compensarão o sacrifício que eu irei necessariamente ter de fazer? Não seria melhor abandonar o país e ir viver em um lugar mais avançado, no qual meus objetivos serão atingidos de maneira mais rápida, em maior quantidade, com maior qualidade, e com menos esforço?

São pensamentos sombrios, sem dúvidas. Creio que somente o verdadeiro amor ao próximo (quer você seja religioso ou não, crente ou ateu) pode nos inspirar a dizer: "sim, vale a pena lutar pelo desenvolvimento, material e moral, do Brasil e eu estou disposto a fazer o sacrifício".

Mas, que às vezes bate um profundo desânimo, isso bate.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Carga Tributária Brasileira Exportando Produção Para a Inglaterra

Olha só que mimo! Uma cervejaria artesanal da Amazônia, a Amazon Beer, vai produzir... na Inglaterra! Isso mesmo! A cervejaria brasileira, querendo ampliar seu mercado consumidor na Europa, firmou parceria com uma empresa inglesa para a produção da sua cerveja. 

Um dos motivos que justificaram a parceria é a distância e o tempo de transporte. Como as cervejas artesanais da Amazon são feitas para serem consumidas jovens, o quanto antes, quanto mais perto sua produção estiver do mercado consumidor, melhor.

Até aí tudo excelente. Acontece que esse não é o único motivo. O outro motivo que incentivou a mudança da produção para a Inglaterra foi, adivinhem só?, o custo Brasil, com nossa pantagruélica carga tributária. Segundo Caio Guimarães, sócio da empresa, em declaração ao Estadão: "o que acontece é que com os custos dos insumos e os impostos aqui do Brasil, a gente chega sem condições de competir com o mercado externo. Nosso produto é pelo menos 40% mais caro feito aqui do lá fora".

Enquanto uma garrafa de Amazon Beer é vendida (sim, vendida, o que quer dizer que já leva em conta os custos de produção e o lucro do empresário) na Inglaterra por 1,20 libras, a mesma garrafinha no Brasil não sai por menos de 10 reais! Diz Caio: "É mais caro mesmo convertendo o preço". 

Se a gente converter usando o preço da libra dado pelo Estadão, em torno de R$ 4, isso quer dizer que a mesma cerveja que a gente paga aqui, no mínimo, R$ 10, poderia estar chegando geladinha à nossa goela por R$ 4,80, uma diferença de R$ 5,20, o que daria pra comprar outra garrafa e ainda sobrar troco! 

Qual a consequência disso? O Brasil perde em dobro. Perde uma vez por exportar a produção para outros países mais baratos e perde outra vez porque nós, consumidores, somos obrigados a pagar um preço bem mais caro pelo mesmo produto, o que significa que ou a gente gasta mais, ou a gente compra menos (ou ambos, hehe). 

Já tá passando da hora de o país acordar para a necessidade "urgente urgentíssima" de simplificarmos e, principalmente, reduzirmos o volume de impostos pagos pelo cidadão brasileiro.

Espanto Moral

Ainda estou abismado com a mais nova malandragem do governo federal. Mas menos pelas consequências econômicas da chantagem do governo Dilma para escapar da justa punição por ter desrespeitado fragorosamente a lei do que por suas implicações morais.

É ingênuo pensar que a postura da mais alta executiva do país não influencie o comportamento do resto da população. E qual é o mais recente exemplo que Dilma Rousseff nos deu? O de que a chantagem pura e simples é uma prática republicana válida, legítima.

Sejamos claros. A "presidenta" descumpriu a LDO, cometeu crime, e poderia até mesmo perder o mandato por isso. Para escapar dessa possibilidade  - que, sinceramente, ainda que que não houvesse qualquer modificação na lei para tornar o ilegal, legal, acho que seria extremamente difícil de se concretizar - a mãe Dilmona publicou decreto no Diário Oficial da União abrindo a torneira dos cofres públicos, liberando e aumentando a verba destinada às emendas parlamentares. 

Só que, pro capilé sair, os parlamentares têm que se comportar direitinho e fazer o que mamãe Dilmona ordena, ou seja, livrar a cara da digníssima do crime que ela cometeu. Senão, nada feito: não têm nem a grana das emendas e muito menos o aumento dessa verba (leia-se bônus por bom comportamento).

Evidentemente, o dinheiro das emendas, se corretamente utilizado, ajuda às respectivas regiões de origem dos parlamentares, e sua falta pode atrapalhar ou até mesmo impedir a realização de projetos importantes para o progresso desses lugares (como obras de infraestrutura, saneamento básico, escola, hospitais, etc., ainda mais no Brasil, país altamente dependente do Estado), o que, de resto, só agrava a imoralidade da chantagem! 

Mas penso que, ainda assim, caberia aos parlamentares, em prol de um bem maior - a preservação da moralidade pública, tão em falta nos dias de hoje - rejeitar a proposta do planalto e lutar pela liberação das emendas em outra oportunidade e com outras armas, mais verdadeiramente republicanas.

Mas, ainda que a proposta seja recusada, é inevitável: ao se comportar da maneira como se comporta, a presidente da república degrada a moral do país e dá um péssimo exemplo tanto ao congresso quanto ao resto dos cidadãos, incentivando-nos a ser imorais também, ao criar um ambiente de permissividade e elasticidade moral.

Quem mais deveria dar o exemplo de estrita correção é justamente a primeira pessoa a quebrar as regras em benefício próprio. Temo pelo destino do Brasil nas mãos de líderes assim, que ao invés de construir, destroem!

ps. A LDO ainda não foi alterada, a votação deve ocorrer hoje. Ainda está em tempo de o congresso dar o exemplo, se a presidente não o faz.

ps2. Duvido que o congresso vá dar o exemplo.

Desespero, Crime e Castigo

O ano ainda não acabou, temos que vencer Dezembro ainda, mas, e isso é líquido e certo, o governo não cumprirá a meta de superavit primário de 2014 (estabelecida em lei, diga-se), o que é crime. Agora, tenta desesperadamente aprovar no congresso a alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO - que estabelece a meta de superavit a ser cumprida - para escapar do castigo. Infelizmente, deve conseguir.

Mas afinal de contas, porque o superavit primário é tão importante assim, a ponto de existir uma lei cujo descumprimento pode até mesmo resultar em impeachment do presidente - explicando o desespero do planalto em alterar a lei?

A resposta é mais simples de entender do que parece. Como qualquer pessoa, família ou empresa, também o governo tem um orçamento pra se virar e pagar as suas contas durante o ano. Que contas são essas? Salário dos servidores públicos, fornecedores, gastos com educação, saúde, investimentos públicos, programas sociais e por aí vai. Só que, assim como quando alguém vai comprar um carro e não tem o dinheiro todo na carteira e precisa fazer um financiamento, leia-se pegar dinheiro emprestado, também os governos têm que pedir dinheiro emprestado para honrar seus compromissos e realizar um sem número de políticas públicas.

Só que todos sabemos que, quando pedimos dinheiro emprestado, incorremos também no pagamento de juros. E é exatamente aí que entra o famoso superavit primário. Ele é, grosso modo, calculado da seguinte maneira:

Receitas do Governo - Despesas do Governo (exceto o pagamento dos juros da dívida pública) = Resultado Primário

Se o governo arrecadou mais do que gastou, e o resultado primário é positivo, tem-se o superávit primário. E pra que ele serve, afinal de contas? Serve justamente pra pagar os juros da dívida pública. Além de pagar os juros atuais da dívida, o superávit sinaliza aos investidores (todos aqueles que compraram títulos do tesouro) que o governo está com as contas em ordem e que não só agora, mas também no futuro, o estado será capaz de honrar seus compromissos (ou seja, pagar o que deve). Além disso, como ele é bom pagador, quando pedir emprestado novamente, as pessoas vão tender a pedir uma taxa de juros menor, pois têm segurança de que irão receber seu dinheiro de volta na data combinada.

Agora, quando um governo gasta mais do que arrecada, ele tem um déficit primário, ou seja, o que ele arrecadou naquele período não foi suficiente nem mesmo para ele pagar suas contas, quem dirá para pagar os juros! E qual o perigo disso? Além de não ter dinheiro em caixa para pagar a atual leva de juros, o déficit sinaliza aos investidores que aquele governo é gastão, irresponsável, e que pode ter dificuldades de pagar as suas contas no futuro. Obviamente, assim como você não vai querer emprestar dinheiro pro seu cunhado caloteiro, ninguém também vai querer emprestar dinheiro pra esse governo gastão. O que faz que, quando tiver que pedir emprestado de novo, ele tenha que pagar 
juros maiores pra convencer as pessoas a liberar o dindin.

Ademais, além da imagem do país, internamente e no exterior, tanto uma quanto outra situação refletem-se sobre outras variáveis da economia, como inflação, câmbio, expectativas, etc., todas de essencial importância para o país crescer. Por isso é tão importante os governos terem suas contas em ordem, em especial num país como o Brasil, com baixa taxa de poupança interna e que, portanto, depende da disposição de pessoas e empresas de fora do país a investirem aqui dentro. Contas do governo em ordem significa uma contribuição inestimável a que também essas outras variáveis estejam em ordem, facilitando e abrindo caminho para o país deslanchar e crescer a todo vapor.

Só que, ao gastar mais do que deveria, o governo Dilma manchou nossa reputação, aqui dentro e principalmente no exterior, fazendo com que os investidores internacionais ficassem menos dispostos a colocar dinheiro aqui dentro. Agora, com a proposta de alteração na LDO, de modo a mandar a meta fiscal pras cucuias, a mensagem que o governo manda é que não está nem aí, que é assim mesmo e que tem que gastar os tubos mesmo!

Se a alteração na lei for realmente aprovada, como acho que será, o congresso terá sancionado um crime e o governo escapado do seu castigo. Mas os brasileiros não escaparão.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

PIBinho, PIBículo, PIBínfimo!

Toda segunda-feira, o Banco Central divulga o Boletim Focus, pesquisa realizada com os principais agentes do mercado financeiro sobre suas expectativas de crescimento do PIB, SELIC - a taxa de juros básica da economia - e taxa de inflação. 

Na pesquisa divulgada esta semana, "a mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu de aumento de 0,21% para alta de 0,20%. Há um mês, a estimativa era de crescimento de 0,27%. Para 2015, a aposta seguiu inalterada em 0,80%.", segundo nota do Valor Econômico.

Ainda que a projeção tivesse triplicado, quadruplicado, quintuplicado, o crescimento esperado para a economia em 2014 ainda seria ridículo! Para 2015, as coisas não são muito "menos piores", com a expectativa de expansão da economia em 0,8%.

O que espanta é um país como tamanho e as características demográficas da população brasileira - com alto número de jovens -, com o nível baixo da renda média do povo e com a consequente necessidade de termos altas taxas de crescimento por períodos prolongados apresentar esse crescimento pífio. Espanta também que esse crescimento é bem menor tanto que o de países desenvolvidos quanto de outros países emergentes, incluindo aí nossos vizinhos latino-americanos. 

Culpa de quem? Culpa da falta de liberalismo no Brasil, do tamanho e do excesso de intervenção do Estado na economia do país e do aumento exponencial das trapalhadas em política econômica à partir do segundo governo Lula.

Tivéssemos uma economia com menos estado, mais livre, mais aberta ao comércio e à competição internacional, mais capitalista, enfim, eu tenho certeza de que poderíamos ter de maneira sustentada taxas de crescimento do PIB acima de 5% com facilidade, o que mudaria radicalmente - para melhor! - a vida de milhões de pessoas, tanto agora quanto, principalmente, no futuro.

domingo, 23 de novembro de 2014

Os Jogos São Vorazes, Mas São Predadores? Ou: Quem Preda Quem, Aqui?

Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que voltamos à ativa. Desta vez, espero que permanentemente.

Então "vamo lá"! 

Pra reaquecer os motores (os assuntos mais polêmicos vão ficar pra mais tarde, depois que eu recuperar o ritmo), comento sobre uma declaração da Ancine, para quem a estreia do filme Jogos Vorazes no Brasil foi "predatória". 

Para Manoel Rangel, presidente da agência reguladora, lançamentos predatórios "são os que ocupam muitas telas em poucos complexos". Segundo ele, tais superestreias, "expulsam" outros filmes do circuito, "homogeneizando a oferta e acabando com a diversidade". Ainda de acordo com o presidente da Ancine, "O espectador que encontrar apenas um título em quase 50% das salas desiste. É menos ingresso sendo vendido e redução do hábito do cinema".

Até aí, vá lá, tudo bem. Os problemas começam quando ele propõe como solução estabelecer uma cota de x% das telas para os blockbusters, seguindo o exemplo da França. A medida, a meu ver, é incompatível com um sistema institucional de plenas liberdades individuais e trai um profundo desconhecimento da mais básica das leis econômicas: oferta e demanda.

É irritante essa mania, no Brasil, de que compete ao Estado zelar, cuidar, tutelar o cidadão, como se fôssemos todos crianças ou, pior ainda, deficientes mentais, incapazes de decidirmos, nós mesmos, o queremos para as nossas vida. Não compete! O Estado deveria apenas garantir um tal marco institucional de modo que eu (e você também, caro leitor) pudesse fazer, livremente, minhas próprias escolhas e, eventualmente, de maneira emergencial, assistencial e temporária, auxiliar aqueles cidadãos em situação de grande risco (miséria e desastres naturais, por exemplo). Não cabe ao Estado, através da Ancine, garantir a pluralidade nas salas de cinema. Cabe aos consumidores, se e somente se, assim o desejarem, demandá-la.

Ainda mais hoje, com a profusão de redes sociais e a conexão cada vez mais veloz de pessoas com interesses em comum, a "solução" da Ancine é, além de autoritária, anacrônica. Seria relativamente simples aos frequentadores de cinema se organizarem e pressionarem as salas exibidoras por maior diversidade de filmes se assim fosse a sua vontade. Não precisa vir a Ancine e obrigar as pessoas a fazerem o que não é do seu desejo.

Filmes e salas de cinemas, antes de serem bens culturais essenciais, são produtos e negócios, devendo servir aos seus respectivos donos. E é aí que a Ancine demonstra completo desconhecimento sobre o funcionamento de um mercado (qualquer um), além de ignorar o relógio. Explico:

Como ninguém é (e nem deveria ser) obrigado a comprar um ingresso de cinema ou assistir a determinada película, para que filmes e cinemas possam servir aos seus donos, eles devem, necessariamente e da melhor forma possível, servir os seus consumidores - no caso, o digníssimo espectador - sob pena de o negócio ruir.

Assim, caso as estreias monstruosas estivessem realmente ferindo o melhor interesse do espectador, certamente a venda de ingressos cairia e o hábito de ir ao cinema diminuiria, como bem pontuou o sr. Rangel. Só que, evidentemente, as distribuidoras e multiplexes não ficariam paradas. Procurariam saber as causas da queda na venda de ingressos. De certo, suas pesquisas identificariam (ainda que não imediatamente, provavelmente) o desejo de um maior número de títulos em exibição por parte dos frequentadores, de modo que, nas próximas exibições e nos próximos lançamentos, ajustariam a sua conduta, diminuindo o espaço do filme "predador" em prol da maior variedade.  

"Ah, mas e se os consumidores estiverem satisfeitos, como fica a diversidade e a riqueza cultural do país?". Bem, certamente essas perderiam, o que eu muito lamentaria, mas se a maioria dos frequentadores estão satisfeitos com esse cenário, paciência. Não é porque eu não gosto de uma coisa que eu deva poder (através da interferência do Estado) obrigar as outras pessoas a mudar e fazer o que eu quero.

Desse modo, no caso, se alguém ameaça predar alguém aqui, esse alguém é a Ancine.

ps1. Caso realmente quisesse incentivar o hábito e a cultura cinematográfica e no país, a Ancine deveria pressionar o governo a diminuir ao máximo a regulamentação do setor, de modo que os custos de produção  e distribuição de um filme e de construção e operação de novas salas de cinema pudessem cair,  estimulando a concorrência, maior aliada da diversidade e do espectador.

ps2. Não é com subsídios e cotas que o ps1. será atingido, mas com menos interferência e regras simples, claras e isonômicas para todos.

domingo, 13 de julho de 2014

1%

No post anterior, comentei um pouquinho sobre o desempenho pífio do setor industrial e comparei a economia brasileira a um carro quase parando e ainda pisando no freio. Pois é! Eis que surge nos sites dos jornais e revistas, confirmando aquilo que eu escrevi, a notícia de que bancos e consultorias econômicas estão prevendo que a economia brasileira deve crescer menos de 1% em 2014.

É péssimo, um resultado pífio, incapaz de atender às necessidades brasileiras! Um crescimento de 1% é muito menos do que o país poderia estar crescendo em condições ideais e o culpado não é outro senão o governo que está aí. Dentro em breve, pretendo fazer uma série de posts explicando bem didaticamente um pouquinho de teoria econômica, aí vocês poderão entender melhor o tamanho da estupidez do que o governo vem fazendo e que, pior ainda, não é inédito! O que está sendo feito agora já foi feito no passado com os mesmos resultados ruins para o país. Parece vinil arranhado. Muda o disco!

Sob as justificativas principais de incentivar a economia, atuando como a locomotiva do crescimento, proteger os empregos e promover a justiça e a inclusão social, o governo petista intervêm com mão pesada, tentando micro-gerenciar a economia. Ainda que os motivos sejam, sim, totalmente louváveis (quem não acha louvável o crescimento econômico, a manutenção de um alto nível de emprego e que os pobres ganhem mais dinheiro e tenham mais acesso tanto a bens materiais quanto à cultura? Eu acho muito!) os meios escolhidos para atingi-los são totalmente errados.

Pra começar temos o aspecto moral da coisa. Ao intervir no funcionamento do livre-mercado, que nada mais é que o produto das livres escolhas de milhões de indivíduos, incluindo eu e você, o que o governo diz é que nós não podemos escolher aquilo que nós efetivamente escolhemos, que nós não podemos comprar e consumir aquilo que nós gostaríamos comprar e consumir. Ainda que isso seja, sim, motivo para debates filosóficos profundos e ainda que em algumas situações a intervenção da força coercitiva do estado seja justificável e até mesmo desejável, alguma medida há que ter! E o governo Dilma já passou demais da conta!

Em seguida, temos as consequências puramente econômicas  da coisa - que em última análise são corolários das implicações morais. Ao intervir na economia o estado distorce seus preços. Essa distorção impede a coordenação dos agentes econômicos, ou seja, impede que as firmas, seus empregados, fornecedores e consumidores se entendam e combinem suas ações, gerando falsas impressões, distorcendo suas decisões, fazendo com que escolham errado ou escolham menos bem do que poderiam.

Pode parecer estranho à primeira vista, mas um preço não é somente um número, ele é, na realidade, um "livro", que juntamente com seus movimentos ao longo do tempo nos conta uma história. 

O preço alto de um computador, por exemplo, nos conta que ele é um bem escasso, que ele é altamente desejado pelas pessoas mas que sua produção é pequena em relação ao total daquelas que o almejam, de modo que somente aqueles indivíduos que mais o desejam e podem pagar por ele irão tê-lo. Mas o preço alto também nos diz que, em face disso, compensa aumentar a produção, ou investir para que ela possa aumentar no futuro, permitindo, assim, o acesso de mais pessoas ao computador. E isso ainda que o preço tenha que baixar - o lucro ganho com cada computador diminui, mas o lucro total do fabricante aumenta, pois o aumento nas vendas de computadores mais do que compensa a queda no lucro de cada unidade.

Ao final, quem sai ganhando? Todo mundo!!! As firmas, pois vendem mais e lucram mais, os trabalhadores, pois mantêm o seu emprego, além do que empresas que lucram mais podem pagar melhores salários, o governo, pois arrecada mais impostos, e os consumidores, pois o preço baixa, de modo mais pessoas podem comprar o mesmo computador e a um preço mais baixo! 

Ao intervir na economia (leia-se nos preços), porém, o governo impede o livro  "preço" de contar a sua história e as pessoas de o lerem. 

Não é algo tão difícil de entender, na realidade, é algo até bastante simples. A economia é um todo complexo que surge de escolhas simples. Mas é ao intervir nessa simplicidade para gerenciar a complexidade que o governo colhe esses (menos de) 1% que vemos atualmente.

Um pouquinho sobre a indústria

Faço um apanhado, comentando algumas notícias com dados que saíram sobre o desempenho da indústria brasileira.

A primeira diz que, em maio, a produção industrial no país caiu em 7 das 14 regiões pesquisadas pelo IBGE e 0,6% no agregado do país, apesar de a outra metade das regiões terem tido desempenho positivo. A segunda informa que, também em maio, o emprego no setor industrial caiu 0,7% em relação a abril de 2014 e 2,6% na comparação com maio de 2013. A terceira notícia dá conta de que o índice que mede a confiança dos empresários do setor industrial caiu em 3,9% junho de 2014 sobre o final de maio e que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada também recuou, 0,8%, em relação a maio.

Pois bem! O que isso tudo quer dizer, afinal? De maneira simples, quer dizer que o Brasil está parando. Se a gente fosse um carro, já está andando devagarinho, devagarinho e ainda pisando mais fundo no freio. Não obstante, a inflação continua alta, ou seja, o motor do carro está fundindo - e não precisamos do IPCA pra ver isso. Todos nós podemos sentir o aumento dos preços "na pele" a cada ida ao supermercado. 

Quem já foi vai entender. O Brasil está descendo a serra de Ubatuba. A gente desce com o carro engrenado, pisando no freio, devagar quase parando e o motor do carro quase derretendo. Se pra descer a serra isso é normal devido ao esforço do carro, na economia, porém, é uma anomalia sem tamanho! Pra isso acontecer, quem decide a política econômica do país, o governo, tem de fazer um esforço danado pra fazer a coisa errada! 


Apesar dos enormes incentivos e benesses governamentais, ou justamente por causa deles, as industriais estão produzindo menos e, o que é tão grave quanto, o otimismo dos empresários está caindo, o que quer dizer que eles não têm perspectivas de que as coisas venham a melhorar num prazo razoável e temem que elas podem até mesmo piorar, o que pode levá-los a cortar ainda mais a produção atual e com certeza fará com que eles não invistam para aumentar a sua produção lá na frente, por acharem que não conseguirão vender seus produtos no futuro. Aí então entramos em uma ciranda do infortúnio e as três notícias se conectam.


Funciona mais ou menos assim:


Situação atual ruim + falta de confiança no futuro => queda na produção (notícia 1) => menos demanda por trabalhadores nas fábricas => queda no emprego (notícia 2) => queda na renda das pessoas afetadas e da economia como um todo => menos demanda pelos bens que as indústrias produzem => queda nas vendas => situação atual ruim + falta de confiança no futuro (notícia 3).


Daí vem o governo e, "jenialmente", pensa: "O que é que eu posso fazer, no que se refere a ajudar o setor industrial? Já sei, vou dar subsídios e aumentar os meus gastos, daí eu alivio a barra das empresas e também aumento a demanda por bens industriais, o que aumenta as vendas e o faturamento do setor, ou seja, a situação atual fica supimpa! e a confiança também volta. Daí fica tudo bem, eu saio linda e superior no selfie e ainda mando beijinho no ombro pros pessimistas!"


SQN! Esse esqueminha miojo (resolve os problemas da economia em 3 minutos) não funciona, e o governo, ao intervir na economia, ao invés de melhorar só faz a situação atual ficar pior ainda e o otimismo dos empresários com o futuro diminuir mais um pouco, realimentando a ciranda viciosa! Por que não funciona? Fica pra outro artigo.


No entanto, tem uma coisa muito mais simples que miojo, porém infinitamente mais difícil, de o governo fazer, que na realidade é a única coisa que realmente funciona (de maneira sustentada): sair da frente! Deixar de intervir. Privatizar a economia, ou seja, deixá-la aos cuidados dos indivíduos!


Pra resumir em duas palavrinhas mágicas: laissez faire.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Delfim e o animal inteligente. Ou: #ficadica

Depois de um longo e tenebroso inverno, voltamos à ativa!

Li no blog do Rodrigo Constantino comentário sobre o texto do Delfim Netto na Folha. Depois, obviamente, fui lá e li a referida coluna e... Discordei logo de cara! Começa Delfim:

Hoje somos todos "marxistas", exatamente como somos cartesianos, kantianos, weberianos, keynesianos, einstenianos e assim por diante. Para qualquer animal inteligente na segunda década do século 21, Marx é necessário, mas não suficiente.

"Devagar com o andor que o santo é de barro!", como diria minha amada mãe. Não sou um gênio, mas me considero um animal razoavelmente inteligente e nem por isso acho Marx "necessário". De fato, considero Marx, no mínimo, desnecessário, quando não pernicioso mesmo! E não estou falando do revolucionário, que até Delfim condena, falo do teórico econômico mesmo. Um dos pilares, se não "o" pilar, da teoria econômica marxista, a mais-valia, é, sinceramente, uma besteira gigantesca, monumental, estratosférica, ímpar, pantagruélica! Resumindo, é uma baboseira sem pé nem cabeça e nem sentido.

Depois, segue Delfim afirmando que de sua teoria sobraram "sólidos resíduos, incorporados definitivamente à consciência da humanidade" (???), e que hoje já estão perdendo a identificação com o autor que os criou por estarem se diluindo no caldo que "se supõe ser o estoque das 'verdades' que conhecemos", verdades entre aspas mesmo, de quebra dando a entender que a verdade verdadeira mesmo (e por favor me perdoem a tautologia) é algo assim que, "na real", não existe (ou ainda que seja algo que nós humanos não possamos, de fato, conhecer)!

Mas por outro lado, pensando bem... Taí! Nisso eu posso concordar com o Delfimzão! Na cultura humana estão "submersos" tanto verdades quanto mentiras e o marxismo, adivinhem!, faz parte do conjunto de mentiras.

Por fim, diz Delfim:

A miséria humana não é produto da propriedade privada, pelo menos não exclusivamente.

Sempre que leio ou ouço alguém condenando a propriedade privada como causa, ainda que parcial, da miséria e da pobreza dos seres humanos me dá um faniquito intelectual. Esse pessoal acha, ainda que não tenha totalmente consciência disso, que a riqueza nasce do "éter", que ela está ali, sempre esteve, e simplesmente foi apropriada por uns poucos, demandando, portanto, sua distribuição equitativa. Ignoram, ou fingem ignorar, que a riqueza não se cria sozinha, que ela é, ao contrário, produto da criatividade e da ação humanas. Esquecem-se de fazer o "antes e depois" da humanidade, no tempo. A humanidade, ao menos a esmagadora maioria dela, sempre foi pobre, pobre, pobre de marré deci. Foi justamente a, adivinhem!, propriedade privada que permitiu a criação gigantesca de riqueza e, que coisa não!, que ela se espalhasse por uma humanidade que, ainda por cima, aumentou enormemente de tamanho.

Qualquer animal inteligente na segunda década do século 21 joga Marx na lata do lixo. #ficadica Delfim ;)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Este é o Brasil do PT. Ou: Então Tá!

Em artigo de 17 de abril no seu blog no Estadão, Celso Ming diz: 

"Dois indicadores divulgados nesta quinta-feira interromperam um período de secura de resultados positivos da economia. Um terceiro não é tão bom. O primeiro desses números mais promissores foi o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que apontou para uma inflação mais baixa do que o esperado. (...) Como a evolução do IPCA de março atingira 0,92%, um avanço do IPCA-15, divulgado uma quinzena depois, de apenas 0,73% mostra desaceleração da inflação. Não é tudo maravilha porque, embora mais atenuada, a inflação segue deteriorando o poder aquisitivo do consumidor. Não se concentra sobre dois ou três setores, mas está muito espalhada: seu índice de difusão é elevado, nada menos que 72% dos artigos que compõem a cesta de consumo (média) do brasileiro acusam alta de preços".  


Este é o Brasil do PT: uma inflação de 0,72% no mês é considerado um resultado positivo. Então tá!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ainda a Energia. Agora + Água

Muito bom o programa "Entre Aspas", da Globo News, sobre a situação atual do fornecimento tanto de energia elétrica quanto de água no Brasil, com os professores da USP Benedito Praga e Edimilson Moutinho dos Santos.

Destaco o trecho à partir de 11:14, em que ao responder a pergunta da apresentadora Monica Waldvogel o professor Moutinho dos Santos bota os "pingos nos 'is'", afirmando também (agora na boca de um especialista na área e de maneira ainda mais clara e enfática que eu) vários dos pontos do meu post sobre a crise do setor elétrico. Nas suas palavras, o Brasil comete um "suicídio energético"! Diagnóstico com o qual eu concordo plenamente. Ele também chama atenção ao fato - que eu já havia levantado no meu post - de que insegurança energética prejudica não só o funcionamento atual da economia, mas também investimentos em capacidade futura de produção!

Outro ponto relevante foi a intervenção do professor Praga chamando atenção de que o problema de abastecimento de água passa também por nós, consumidores, que devemos consumir de maneira mais responsável esse recurso, ainda mais quando os investimentos na área são insuficientes. Sem ser um eco-chato, ele nos chama a atenção para que consumamos menos água, sobretudo em épocas de estiagem prolongada e reservatórios em baixa, e para que evitemos o desperdício, e ainda que pequenas economias que tem custo zero para o indivíduo, como desligar a torneira quando estiver escovando os dentes (o exemplo é meu), ao final de um dia podem somar-se um volume de água significativo.

Enfim, assistam ao programa! 

#ficadica 


ps. E nem longo o programa é, menos de 24 minutinhos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O Brasil Pode Parar. Ou: O Santo Não Tem Culpa

Alerta: vai ficar graaaaaannnnndddeeee!!!

Há algum tempo já, tem me preocupado a situação energética brasileira. Desde o ano passado temos usado intensivamente as usinas termelétricas, mais caras e poluentes, para a geração de eletricidade. E isso com a taxa nanica de expansão do PIB que temos! Imagino como estaríamos agora caso tivéssemos crescido nesses últimos 3 anos o que o ministro da fazenda, Guido Mantega, havia "previsto", algo entre 4% e 4,5% ao ano.

Comecemos com o óbvio ululante: assim como para andar, trabalhar, falar, se exercitar, assistir a um filme, enfim, viver, você precisa se alimentar constantemente, para dos alimentos ingeridos obter a energia necessária à prática de todas essas atividades, também as empresas de um país, para produzir e prosperar, precisam de energia, e essa energia precisa ser obtida de alguma maneira. 

Nós, consumidores individuais, familiares (principalmente os mais jovens) tomamos a energia elétrica  presente em nossos lares como algo tão natural e corriqueiro que às vezes ela nos parece quase como algo que sempre esteve lá, surgida como que do nada, bastando ligar na tomada ou apertar o interruptor que voilà!, temos luz, água quente no chuveiro, televisão e computador ligados, alimentos conservados na geladeira, cervejinha gelada no congelador. De fato, a energia elétrica só nos chama atenção quando falta! Pouco ou nada paramos para pensar sobre a enorme, complexa e custosa cadeia existente desde a sua geração nas usinas até a nossa tomada, passando entre essas duas pontas pelas centrais de transmissão e distribuição.

Todo esse sistema no Brasil está no seu limite. E a política energética do governo petista tem feito o que pode para atingí-lo mais cedo. 2014, até agora, tem sido um ano fraco para chuvas, o que somado ao forte calor que tem feito, contribui para agravar o problema. Mas não venham por a culpa em São Pedro que o santo não tem nada com isso! Uma crise energética não se cria da noite para o dia. Se hoje corremos o risco real, ainda que por enquanto relativamente baixo, de termos de enfrentar um racionamento mais à frente, a culpa disso é bem terrena. 

Por sua própria natureza, tanto a geração quanto a transmissão e distribuição de energia elétrica são investimentos cujo retorno se dá a longo prazo. O maior gasto se dá na construção do próprio empreendimento, na sua fase pré-operacional, enquanto que, uma vez instalado, o volume de eletricidade produzido pode ser variado sem muito custo (desde que dentro do limite da capacidade de geração instalada na usina, claro, além dos qual são necessários novos investimentos na construção e instalação de novas estruturas e equipamentos). Em economês, dizemos que os custos fixos são volumosos, enquanto que os variáveis (dependentes do nível da produção) são baixos.

Ora, para um empresário se engajar em um negócio assim, é fundamental ter o máximo de previsibilidade possível! Se a realidade fugir muito às suas previsões, ele pode ter de amargar um prejuízo gigantesco. E um dos fatores mais determinantes sobre essa realidade é a regulação governamental do setor, ainda mais se nos atentarmos ao fato de que o investimento não é realizado uma vez só. Ao longo da vida do projeto novos aportes de capital devem ser feitos, tanto para a manutenção das atuais estruturas, quanto para sua ampliação e modernização, de modo que a crescente demanda energética possa ser suprida.

Nesse aspecto, definitivamente, Dilma e seu governo vão de mal a pior. Vamos recordar 2012, quando a "presidenta" resolveu baixar na canetada em 20%, em média, o valor da conta de luz e anunciando o feito em rede nacional como se tivesse feito algo de muito bom . De fato, a energia brasileira é cara, e isso encarece nossos produtos e inibe investimentos nos demais setores da economia, mas não é com o populismo do "ou dá ou desce" - quem não aceitasse as tarifas reduzidas impostas pela gerentona não teria suas concessões renovadas - que se resolve o problema. 

A Cemig e a Cesp, apesar de estatais, são mais profissionais e independentes pularam fora do barco. A Eletrobras, coitada, controlada pelo governo federal, não teve como escapar e topou o negócio, cuja previsão era de dar um tombo no caixa da empresa da ordem de 70%!

Apesar de gravíssimos, esses não são os únicos problemas. Uma série de investimentos está atrasada, como as linhas de transmissão que ligariam diversos parques eólicos ao sistema nacional. As usinas já estão prontas, mas não podem produzir nenhum megawatt pois simplesmente não há ligação delas com a rede elétrica!  Os equipamentos também estão em cacarecos, como fica evidente pelos recentes - e inúmeros - apagões no Brasil, sendo o mais recente essa terça-feira

Imagino eu que a situação só tende a se agravar. Como, com a redução da tarifa de luz feita na base da canetada as geradoras e distribuidoras de energia conseguiram gerar caixa o suficiente para cobrir a manutenção dos atuais equipamentos e realizar novos investimentos? E com a demanda por energia sempre crescente?

A medida da presidente Dilma foi populista e extremamente irresponsável. No mais, a situação energética caótica no Brasil pode comprometer o crescimento da economia em mais de uma maneira. Não somente o setor energético é prejudicado. Se a oferta de energia é incerta, empresários de outros setores da economia podem decidir adiar ou mesmo cancelar investimentos pelo simples fato de que pode eventualmente "faltar gás" pra tocar as novas máquinas e equipamentos.

A forte escassez de chuvas certamente agrava bastante o problema e se não fossem as termelétricas em funcionamento o Brasil já estaria em um quadro de racionamento, mas planejamento e investimento existem justamente para isso, para que mesmo com São Pedro fazendo jogo duro o pais tenha segurança e previsibilidade em um dos itens mais fundamentais da cadeia produtiva. O sistema já está novamente no limite menos de 15 anos depois do racionamento de 2001 e evidentemente falta (muita) competência ao governo para dar conta do problema.

Por fim, "ainda bem" que a economia brasileira não cresceu o que o governo queria. Tivesse, ao invés de termos atualmente o sistema no limite, certamente já estaríamos enfrentando um novo racionamento! Sim, a inépcia do governo é tamanha que nos obriga a torcer, ao menos em parte, contra o Brasil! É simplesmente um absurdo! 


ps. Não é coincidência que tal situação se dê em um dos setores mais estatizados da economia.

ps2. Ufa! Acho que acabou! :)