segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Porque Sou Contra O Aborto I

Li agorinha há pouco no Facebook um post de uma amiga minha que, se interpretei corretamente, defende a legalização da prática valendo-se em dois argumentos: liberdade individual e contenção de danos. Foco neste post no primeiro argumento.

Antes de começar, como esse é um tema pra lá de espinhoso, em que a discussão descamba fácil, fácil para a briga pura e simples, faço um alerta importante: discordo da opinião dessa minha amiga (e de muitos outros amigos meus), sobre o tema, acho, sim, que ela está redondamente errada sobre a questão, mas e daí? Não é por isso que vou brigar, considerá-la uma pessoa má, sem coração, que vai arder eternamente no inferno, etc. e tal. A discussão aqui é do tema, não de intenções, que à consciência de cada um pertence. 

Ainda que não cheguemos em um acordo, e realmente não acho que chegaremos - e nem vejo porque chegaríamos, já que isto é um debate, não uma conversão - continuarei a ter por ela, e por todos meus outros amigos que por ventura defendam a legalização do aborto, o mesmíssimo afeto e estima que por eles sempre tive.

Dois - e esse parágrafo vai ser o mais chato do texto -, ainda que, repito, considere as posições a favor da legalização do aborto moralmente hediondas e intelectualmente insustentáveis, devo eu ser tolerante, não apenas porque a tolerância é uma das maiores virtudes, mas principalmente porque, acreditando piamente e sendo ferrenho defensor do livre-arbítrio, é forçoso reconhecer que o erro é um direito! Explico: Se alguém vier e me disser que a força da gravidade não existe, ou que E não é igual a mc², ou ainda que 2 + 2 = 5, obviamente essa pessoa está errada. Mas eu pergunto novamente: e daí? Qualquer indivíduo tem o direito inalienável de achar que 2 + 2 = 5 ou que E não é igual a mc², ainda que, obviamente, errado. Logo, tolerância não é nem mesmo uma virtude, é um dever! 

Tudo isso pra dizer que eu quero discutir, não brigar. Então vamos lá.

Apesar do tema muito me interessar, relutei em escrever sobre ele no blog já que o foco da discussão aqui é economia. Ainda assim, considero o post que se segue um dos mais importantes que escreverei no blog.

O argumento mais básico e na minha opinião o mais honesto a favor da legalização do aborto é o do livre-arbítrio. Faz parte do escopo das liberdades individuais da mulher interromper a própria gravidez. Concordaria com ele e, sinceramente, seria o único necessário caso não houvesse o direito à vida e os interesses de um outro ser-humano - que, para muitos dos que defendem a prática não deveria ser assim definido e designado, o que de resto deixa em aberto a questão quando exatamente um ser passa à humano - inexorável e diretamente afetado pela prática e da maneira mais completa e definitiva possível, já que leva a sua morte. 

O exemplo usado pela minha amiga foi o da legalização da maconha: "eu não gosto, não acho certo, não quero então eu não fumo e não aborto, mas você deve poder fumar e abortar caso queira, goste ou ache certo". Com toda vênia, comparar a permissão do aborto com a descriminação das drogas é intelectualmente picareta. Um back não está vivo, não cresce, se desenvolve, não nasce, não é auto-consciente. Um feto ou um embrião tampouco são uma unha, um dente cariado, uma amídala, um apêndice, os quais se pode extirpar, sem o menor drama, do próprio corpo. Possuem natureza distinta, a nossa, a qual, infelizmente, ainda não foi precisamente determinada. 

O fato é que ainda não há uma definição precisa e arrisco dizer nem mesmo satisfatória de qual é, afinal de contas, a natureza precisa de um ser-humano, qual a nossa essência mais íntima, nem o momento no qual tem início nossa existência como tais, a partir do qual sua eliminação é um assassinato. É na formação do zigoto? Na fixação do embrião na parede do útero materno, quando surgem as primeiras células e sinais nervosos? Mesmo no campo estritamente científico a discussão é completamente franca.

Mas de um dado, ao menos, acho que podemos ter certeza: é antes do nascimento, quando o bebê ainda se encontra na barriga da mãe, ou não faria o menor sentido a realização de cirurgias intra-uterinas. Outra coisa também é certa: o zigoto é vida. Discute-se se é ou não vida humana, se possui ou não direitos, mas não se pode negar que seja vida, ou, afinal de contas, seria algo inanimado e, portanto, não poderia se transformar, através de múltiplas divisões celulares, em um lindo bebê.

Essa reportagem da Super faz um bom apanhado da quizumba - mas, longe de oferecer resposta, deixa (ainda) mais perguntas no ar. É de 2005, mas, de lá pra cá, não que eu tenha tido notícia pelo menos, nada mudou - e se mudou, foi a favor da interdição, não da liberação*.

Sendo assim, de cara, o argumento da liberdade individual cai, já que o livre-arbítrio da mãe de abortar pode ir contra o livre-arbítrio e direito filho de viver. E, dentre todos os direitos fundamentais do ser-humano, a vida é o mais elevado deles na hierarquia. É como diz o ditado: a minha liberdade acaba quando termina a sua. Assim, o máximo que nós temos hoje é uma probabilidade de não estarmos chancelando um ato hediondo ao legalizarmos o aborto.

Portando, ainda que no futuro os avanços no conhecimento provem, para além de qualquer dúvida razoável, que o zigoto, embrião, feto não é um ser-humano vivo - não possuindo, portanto, direito inalienável à vida e ao livre-arbítrio - e que abortar é algo tão moralmente inofensivo quanto uma depilação, a prudência manda que condenemos a prática até que a questão esteja completamente resolvida.







*recentemente descobriu-se que pacientes os quais se acreditava tinham morte cerebral, ainda possuíam um tipo de onda cerebral, até então indetectado, é uma rápida pesquisa no Google pra achar, o que mostra que nem mesmo a determinação de "morte", cujo inverso daria, portanto, a definição do começo da vida de acordo com uma das correntes científicas apresentadas na reportagem da Super Interessante, está completamente determinada pela ciência.

Um comentário:

  1. Bru, meu amor, eu não usei o exemplo da maconha pra justificar o aborto. A maconha foi um outro tópico.. Não sei se você lembra, mas eu comecei tratando dos gays, depois direito das mulheres, depois aborto, depois a maconha. Porque era assuntos que estavam rolando na minha timeline a dias! E muitas pessoas falando disso... (Além dos troxas que queriam saber com uma palavra como tinham se conhecido).
    Eu só dei uma passada rápida em cada tópico, com o meu posicionamento em casa um deles, não justifiquei nenhum.
    A questão é que o aborto é um fato cotidiano. Milhares de mulheres fazem ele. É ilegal, sim, mas não deixa de acontecer. Então é necessário sim uma mudança política em relação a isso. Mulheres abortam, e morrem. Seja lá qual for o motivo delas, uma mulher que quer abortar, vai abortar. E não há o que fazer pra não acontecer isso. Aliás, há sim: modificar o modo de educação. Abrir o assunto para pautas discutíveis. Não é simplesmente legalizar e foda-se. Acho que antes do ato em si, a mulher poderia sei lá ter um mês de acompanhamento médico para que ela tenha certeza, ir a uma classe de mulheres que querem, conversarem e as vezes se ajudarem... Sei lá! E ai, se ainda assim com 1 mês desse tipo de programa a mulher ainda assim deseja abortar, então poderia fazer isso. Mas com segurança, e ciente do que está fazendo.
    Existem mulheres desesperadas, que fazem por desespero... Tem mulheres que ficam estéril, e outras que morrem!
    Fechar os olhos e achar que só porque é uma vida não modifica o fato do aborto acontecer. Proibir não é solução dos problemas. Abrir o tema a discussões e tratar essas mulheres com outros meios podem até diminuir o número de abortos... O que eu falo de não julgar, não é não julgar o ato em si, mas não julgar a vida e desespero da mulher que o comete.

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