quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Farinha, Privilégios e Auto-percepção

Breve comentário sobre matéria da Folha:
Creio eu que outro fator que talvez pese é que, mesmo sendo abastados para o Brasil, a classe mais alta da nação, que têm vivência internacional (quer diretamente ou conhecendo alguém que já foi pra fora), descobre que, em comparação aos países desenvolvidos, é na verdade classe média, quando não semi-pobre. A verdade é que, na média, todo mundo no Brasil é pobre, e (tirando os realmente muito ricos) nos dividimos entre "mendigos-de-mendigos", "pobres de marré deci", "pobres", "remediados" e "vá lá, legalzinhos".
Vi um gráfico, hoje (dados do Datafolha de 2013), que mostra que estão no top 4% dos salários do Brasil famílias com renda mensal entre R$ 6.780 e R$ 13.560. É pouco? Não, definitivamente não é, mas também não dá pra falar que é rico.
Junte a isso uma carga tributária girando em torno de 35% do PIB + serviços públicos financiados com essa carga em petição de miséria (o que obriga as pessoas a comprarem novamente, no mercado privado, aquilo pelo que elas já pagaram via impostos) e não me espanta nadica de nada as pessoas se agarrarem desesperadamente a todo e qualquer benefício/privilégio/dinheirinho extra que têm. Afinal, se a farinha é pouca, meu pirão primeiro.
Na reportagem, o professor Naércio (foi meu professor de Microeconomia 1) diz: "as pessoas não têm ideia de quanta gente vive com tão pouco. Quem ganha R$ 3.000 por mês, claro, não se acha rico. Existe aquela visão de que rico é o milionário. Na novela, eles têm empregados." Bem, acrescento, não se acha rico porque de fato não é rico. Se está no topo da pirâmide isso é porque todo o resto é ainda mais pobre do que ele.
Sim, agregado, o comportamento mencionado leva o país à breca? Leva! Contribui para a pobreza da nação? Contribui! Então é preciso reformular o sistema, equalizar, diminuir a variância, cortar privilégios, eliminar discrepâncias? É sim, senhor! Mas é preciso não demonizar mesmo aqueles que recebem os tais privilégios!!!
Não importa o tema, é espantoso ver como o Brasil cai mole, mole no nós-contra-eles, na narrativa fácil do vilão-contra-mocinho: empresários x trabalhadores; ricos x pobres; funcionários públicos x trabalhadores da iniciativa privada; privilegiados x massa desprivilegiada. E isso só para ficar na esfera econômica.
Enquanto ficarmos presos dessa ladainha, procurando culpados, alguém de quem exigir uma reparação que julgamos nos ser devida; enquanto não enxergarmos no outro alguém eventualmente menos lascado do que nós, viveremos patinando na mediocridade civilizacional.

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