quarta-feira, 6 de maio de 2015

Sem Gás!

O Brasil está ficando para traz. Levantamento da Folha mostra que o poder de compra do brasileiro regrediu em 2014.

O levantamento mostra que, no ano passado, como proporção da renda americana, o PIB brasileiro, medido em PPC (Paridade do Poder de Compra) ficou em 29,5% do PIB dos Estados Unidos, em leve queda em relação ao patamar anterior, de 30%. 

O PIB medido e comparado pelo PPC leva em conta o poder de compra da moeda de cada país, ou seja, seu valor em termos dos seus próprios preços/custo de vida locais na hora de converter o PIB da moeda local do país para o dólar. 

Um rápido exemplo nos ajuda a entender: Suponhamos que um americano típico ganhe em média 4 vezes mais que um  brasileiro comum. Suponhamos também que os bens e serviços que ambos consomem, ou seja, suas cestas de consumo, sejam as mesmas (sim, isso obviamente não corresponde à realidade, mas é uma hipótese que ajuda a entender a PPC). Fossem os preços da cesta de bens iguais em ambos os países, naturalmente o brasileiro consumiria 1/4 daquilo que o americano compra e diríamos que a renda da brasileira é 25% da americana. 

Mas imaginemos agora que os preços no Brasil sejam bem mais baratos e que a mesma cesta de consumo custe 3 vezes menos aqui do que lá. Assim, por mais que nossa renda seja mais baixa, nosso custo de vida também é! Fazendo as contas, veríamos que a quantidade de bens e serviços consumidos no Brasil seria 3/4 daqueles nos EUA, ou seja, nossa renda relativa seria não 25%, mas 75% da renda relativa americana! A PPC faz exatamente isso, comparado os PIBs dos países em termos de seu próprio poder de consumo de bens e serviços (expressos então em uma moeda comum, geralmente o dólar, para poderem ser comparados).

Mas volto ao leito. Contrariando o discurso oficial/petista, isso não teve nada a ver com a crise internacional, tendo sido causada única e exclusivamente pelas nossas trapalhadas internas na condução da economia. Basta ver que um grupo bastante heterogêneo de países, de diversas regiões do globo, incluindo aí vizinhos latino-americanos como o Chile, vem conseguindo sistematicamente reduzir sua diferença para a maior economia do planeta e, importante frisar, em termos porcentuais, ou seja, levando em consideração também o crescimento do PIB americano, além do seu próprio*.

De fato, estamos perdendo até para nós mesmos!, já que na década de 80 essa proporção chegou a atingir 38%.

Tão importante quanto constatar nossa tendência negativa é constatar o patamar absoluto em que nos encontramos: 30%!!! Vizinhos nossos, como Uruguai e Chile possuem renda relativa de 37,7% e 42,1%, respectivamente. Não só temos falhado em fechar o gap que nos separa dos países desenvolvidos como temos patinado há bastante tempo num patamar, na minha opinião, bastante baixo. Outros países, como Coréia do Sul e Taiwan têm obtido ainda mais sucesso: 64,6% e 84%, respectivamente.

E nunca é demais lembrar, em 1960, a renda per capita brasileira e sul coreana eram bastante similares, com ligeira vantagem para a... brasileira. "Ah, Bruno, 1960 já passou faz tempo, que importância tem isso para o cenário de agora?" TODA!!! Desenvolvimento econômico (e social) é uma maratona, não 100 metros rasos, e uma maratona com barreiras! Decisões tomadas em economia têm efeitos duradouros no tempo.

Muito do país que hoje somos, economicamente, foi plantado nas décadas de 1950, 1960... em um processo cumulativo que foi lançando as barreiras e oportunidades - mais barreiras que oportunidades -, traçando o cenário de então e influenciando (ou melhor seria determinando) toda a trajetória de crescimento subsequente, até os dias de hoje. Analogamente, estamos, hoje, através das nossas escolhas em política econômica, construindo a economia  na qual nossos filhos e netos terão de viver e, a julgar pelo que temos feito nessa seara, na qual terão de se virar.





* Suponhamos que o país A cresça 7%  e o país B cresça 10% em um determinado ano. Ainda que ambos tenham tido crescimento excepcional, a renda do país A como proporção da renda do país B irá cair, já que o país B cresceu ainda mais rápido que o A - a divisão PibA/PibB cai. Ou seja, para que a proporção da renda do país A  em relação a B aumente é preciso que ele cresça ainda mais rápido que B - fazendo divisão PibA/PibB aumentar. Caso ambos os países tenham o mesmo crescimento, obviamente, a divisão se mantém constante e a renda de A continua com a mesma proporção da renda de B.

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