segunda-feira, 30 de março de 2015

Levyano. Ou: Levy, Por Favor, Fica Quietinho!

Joaquim Levy, a quem já manifestei e mantenho o meu apoio na execução dos dolorosos ajustes na economia brasileira, deveria se ocupar de trabalhar e, de resto, ficar quieto. Pois, se é infinitamente mais bem articulado verbalmente que Dilma Rousseff - ele consegue formular, da própria cabeça, uma frase com sujeito, predicado e sentido, o que ela não sabe fazer - suas declarações públicas não podem ser consideradas exatamente "boas".

Nesta segunda-feira, na tentativa de consertar a burrada (ainda que factualmente correta) dita na terça-feira passada, no encontro na Universidade de Chicago, o ministro disse que o destaque foi dado à parte "irrelevante" da sua fala, com o objetivo de "criar um banzé". 

Disse o ministro: "você podia ter pegado um pedaço da frase e ter sublinhado a parte relevante, que a presidente tem genuíno interesse em endireitar as coisas"; "Dilma tem genuíno interesse em endireitar tudo que está no Brasil"; "pegaram parte irrelevante da sentença" e "as pessoas podem pegar trecho irrelevante da minha fala para criar um banzé".

Peço vênia ao ministro, mas reforçar as boas intenções da presidente quando toma medidas na economia só serve para reforçar a outra parte da sentença, a de que tanta boa intenção só resulta, na prática, em cagadas (peço perdão pelo termo), em políticas econômicas desastrosas. Ainda que não queira, o ministro joga a presidente no ditado popular: "de boas intenções o inferno está cheio". Reforça ainda o caráter amadorístico da mandatária - o que, convenhamos, é verdade! - dando a entender que a presidente é "café com leite".

Como dito no meu post anterior, as declarações do ministro só aumentam o isolamento político de Dilma e dificultam a aprovação do seu pacote no congresso, o que, mesmo sem esses complicadores adicionados pelo ministro, seria já bastante difícil.

Evidentemente que, depois que suas declarações no evento caíram no conhecimento popular, caberia ao ministro (tentar) remendar as coisas, mas não creio que ele o esteja fazendo "da maneira mais efetiva". 

Mas, de todo modo, também é evidente que este jogo contínuo de declarações e consertos não faz bem ao país. Passa, no mínimo, a imagem de uma presidente e seu ministro fora de sintonia, diminuindo nos agentes a confiança na aprovação e continuidade das medidas de ajuste econômico, o que, consequentemente, diminui seu ímpeto de retomar seus investimentos - tão necessários ao Brasil.

Lembro ainda que a nota da dívida soberana do Brasil só não foi rebaixada pelas agências de classificação de risco, o que nos faria perder o grau de investimento, por um voto de confiança no ministro (voto mais fácil de ser mantido no futuro caso se acredite que a presidente e Levy estão no mesmo compasso). A perda desse grau jogaria ainda mais a economia brasileira na lama e tanto dificultaria quanto atrasaria a nossa recuperação.

Portanto, pelo bem do Brasil, de agora em diante Joaquim Levy deveria limitar-se a trabalhar e, no mais, ficar de boca fechada.

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